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Ação e Reação

Tempo de Leitura: 4 minutos.

Família Portofino,

No Brasil, não se morre de tédio… A grande verdade é que ninguém imaginava que o governo, na intenção de equacionar o orçamento para se fazer caber o pagamento dos precatórios e o aumento do novo Bolsa Família, faria a opção por não respeitar a restrição imposta pelo teto dos gastos. Erramos todos.

O agravante é que além de não se saber exatamente o montante total, o mercado se viu surpreendido pelo anúncio de novas benesses. Adicional de R$ 30 bi, R$ 50 ou R$ 80 bi, não se sabe ao certo. O que se sabe é que a percepção de austeridade fiscal assegurada pelo instrumento do teto foi maculada apesar toda a ginástica retórica por parte do governo em negar o fato.

A sensação é de porteira aberta. Agora, R$ 400 reais por famílias, ventilou-se R$ 500. R$ 400 para 750.000 caminhoneiros autônomos. O que poderia vir, além disso é a pergunta que o mercado se faz. E os preços refletem as surpresas negativas e incertezas.

No meio do calor do fato, não devemos optar pela decisão mais fácil e potencialmente errada de sair vendendo tudo e reduzindo riscos. Isso não quer dizer que não devamos reavaliar o cenário e ajustar nossas expectativas para um novo ambiente onde, na melhor das hipóteses, a probabilidade de uma desancoragem fiscal aumentou.

É uma análise complexa, o que pede serenidade, mais técnica e menos estômago. Nos juros, o dia foi de zeragem compulsória (stop loss) por parte de alguns fundos. Por outro lado, tivemos sinais de estrangeiros voltando a comprar títulos do Tesouro prefixados aproveitando os níveis estressados das taxas, o que isoladamente é uma boa notícia. Perdemos todos a referência para até onde o Banco Central deverá levar a SELIC, confirmada a perda da âncora fiscal, mas tudo parece precificado para o pior.

Na linha das falsas obviedades, vender ações em situações de completo descontrole de gastos públicos, no longo prazo, nem sempre é a melhor opção. Importante dizer que ainda estamos muito distantes disso, a foto do nosso fiscal ainda é muito boa. Somente como exercício, em crises fiscais severas, ações no portfólio passam a ter características de ativo real com proteção adicional à inflação. Em outras palavras, melhor ser sócio de empresas líderes em seus setores de atuação, que você confia no management, com negócios diversificados geograficamente e descorrelacionados da economia local do que eventualmente emprestar dinheiro ao Tesouro. Reforço mais uma vez, ainda estamos muito distantes de um cenário de risco de solvência da dívida pública, mas não vamos negligenciar o fato de que, na margem, esse risco aumentou.

Lembramos também que já havíamos reduzido o risco da exposição em renda variável das nossas carteiras aumentando exposição no exterior e concentrando a parte local em estratégia “long biased”, portanto mais defensivas. Isso também não quer dizer que, com as novidades do cenário, não consideremos, por exemplo, intensificar nossa exposição no S&P500. Os resultados das empresas americanas, a despeito de todas as recentes preocupações com o aumento da inflação, continuam a surpreender positivamente.

Todos os mercados domésticos — juros, câmbio e bolsa — fecharam melhores do que seus piores momentos no dia. No linguajar do mercado, muitas posições trocaram de mão, o que minimiza a potencial continuidade de vendas forçadas. Falamos com vários dos nossos gestores e muitos já se encontravam com menor exposição a Brasil de forma geral, outros potencialmente se beneficiarão da recente volatilidade.

Estamos debruçados sobre as novas informações, reavaliando riscos, mas também oportunidades. Continuaremos dia e noite cumprindo nosso dever fiduciário de zelar pelo patrimônio das nossas famílias, sempre fiéis às nossas convicções.

Segue o jogo. Amanhã tem mais.

Edu Castro
Chief Investment Office
Portofino Multi Family Office

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.
”Ação e Reação” é um conteúdo pontual e exclusivo para clientes Portofino que traz uma visão técnica sobre os momentos mais sensíveis do mercado, no dia de hoje.