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Família Portofino,
Nesta quinta-feira (29.09.22), aconteceu o AgroForum, evento realizado pelo BTG Pactual, que discutiu diversos assuntos relacionados ao agronegócio com a presença de pessoas importantes, como Fábio Faria, Ministro das Comunicações, Marcelo Sampaio, Ministro da Infraestrutura, e outros diretores de grandes empresas do setor.
Confira a seguir um overview do evento.
Cenário Econômico e Político Brasileiro
O evento começou com o primeiro painel dando uma visão geral do mercado com as análises de André Esteves, Chairman e Sócio Sênior do BTG Pactual. Logo no início, Esteves já comentou sobre a importância das reformas. “Quando você implementa um ciclo de reformas, o país vira o que vemos hoje. O Brasil vai crescer. Um dos resultados mais importantes da história”, disse ele. Ele justificou essa opinião ao falar sobre o aumento de juros do Brasil, a angústia do cenário eleitoral e o ambiente externo. “A gente crescer 3% tem muita conquista envolvida”.
No campo político, ele comentou que o bom governo é aquele que melhora as coisas e preserva o que deu certo. Voltando a falar de reformas, ele “acha que ambas as candidaturas irão priorizar a reforma tributária. Estamos prontos para simplificar o nosso sistema tributário”.
No cenário externo, a visão dele é que a direção dos juros americanos é para cima, com mais uma elevação de 0,75 ponto percentual e depois discussões sobre altas de 0,5 p.p. Na Europa, ele chamou a atenção para uma possível atitude russa que possa fazer com que os países parem de importar petróleo russo. Sobre China, “a questão é mais complexa. Acho que ela vive um momento muito desafiador, um ‘Lehman Brothers’ no setor imobiliário. Por ser tudo muito controlado lá, as crises também andam em câmera lenta. Além disso, tem a política contra o covid adotada por eles, que tem empurrado o crescimento para baixo”.
O mercado de capitais e o agro
Na sequência, Rodrigo Penna, CFO da Jalles Machado, Maurício Puliti, CFO da Agrogalaxy, e Marino Colpo, CEO da Boa Safra, subiram no palco do evento e falaram bastante sobre a representação do agronegócio na Bolsa de Valores.
Penna falou que o agro é um setor que o Brasil é muito competitivo e representa quase 30% do PIB, por isso deveriam ter mais empresas na bolsa. Complementando a opinião do CFO, Colpo acrescentou que sente o desejo das pessoas físicas em investir no agro. “Na minha visão, o mercado de capitais traz muita democratização, pois por R$ 10 a R$ 15, todo mundo pode ter a mesma ação que eu tenho”, afirmou o CEO.
Questionados sobre as principais dificuldades quando suas respectivas empresas realizaram IPO, Puliti comentou que um dos principais desafios foi por se tratar de um setor desconhecido do público em geral, mas que o fator de sucesso foi que tinha janela na época. Colpo, por outro lado, disse que o mais importante foi o planejamento e mostrar a trajetória de crescimento do que seria feito com o dinheiro levantado para estimular o investidor.
Além disso, os convidados também falaram sobre ser um setor que é difícil explicar a sazonalidade, uma característica marcante do agronegócio. “O agro precisa de muito crédito. O investidor gosta de uma empresa relógio, que fatura sempre a mesma coisa e tem picos em datas comemorativas. A maioria das empresas do agro não têm isso, ela é anual”, explicou Marino Colpo.
5G no Agronegócio
A recente chegada do 5G e sua relação com o agro também foi tema durante o evento. O Ministro das Comunicações, Fábio Faria, esteve no painel e começou ressaltando que hoje o Brasil é respeitado lá fora, “o nosso modelo de leilão está sendo replicado em vários locais. Estamos mostrando ao mundo que estamos bem no 5G, sendo a primeira implementação na América Latina”.
No atual momento, segundo o ministro, estamos na fase de transição devido ao tamanho do nosso país. “Estamos tendo cerca de 3 a 5 vezes mais o número de antenas instaladas do que prevíamos no leilão”, citou Faria. Ele ainda acrescentou que para cobrir o país inteiro será necessário capilaridade, portanto terá espaço para todos os players.
Em relação a como a tecnologia poderá contribuir com o agronegócio, Faria contou que esteve em contato com algumas empresas, como Samsung, Nokia e Huaweii, que disseram que o foco delas está no setor. Ele disse que a aplicação poderá ser feita em drones, pulverizadores autônomos e defensivos agrícolas, por exemplo. Com isso, o agro terá uma bandeira mais sustentável e maior precisão, na opinião dele. “Estimamos que o agronegócio deve crescer mais de 10% com o 5G. Encerraremos o ano com 25% da população utilizando o 5G”, afirmou o ministro.
Crescimento Sustentável do Agronegócio no Brasil
Ricardo Mussa, CEO da Raízen, Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, e Beny Fiterman, CEO da Agropalma, subiram ao palco no quarto painel do dia. O principal tema foi a sustentabilidade e sua relação com o setor.
Tomazoni, dentre suas falas, explicou que corremos um risco de causar uma grande catástrofe caso a temperatura não seja reduzida. Ao falar sobre como a JBS lida com a sustentabilidade, ele disse que tratam a questão como oportunidade e incorporaram ao negócio.
Fiterman também falou sobre o assunto e contou que a Agropalma nasceu sustentável. “É uma condição de competitividade no nosso mercado, condição de atuar. Estamos a todo momento olhando como gerar mais sustentabilidade”, explicou.
Reduzindo Custos Brasil – Logística & Infraestrutura
Marcelo Sampaio, Ministro da Infraestrutura, e João Alberto de Abreu, CEO da Rumo, discutiram sobre como a infraestrutura e a logística ajudam a reduzir os custos no agronegócio.
Sampaio citou algumas das conquistas do ministério nos últimos anos e relatou como facilitarão para a área do agronegócio em todos os tipos de transporte. No caso do setor portuário, por exemplo, ele disse que são responsáveis por quase 97% do que o país exporta e importa. “Qualificamos no último mês a Companhia Docas do Rio de Janeiro e Pará para privatizar”, contou ele.
O ministro também falou que estamos colhendo os frutos do que foi plantado em meio à pandemia. O político comentou que podemos seguir plantando “o país do futuro, gigantesco e continental de um povo trabalhador”.
O CEO da Rumo adicionou no painel o fato de o Brasil e os EUA serem os grandes provedores do mundo e, que na visão dele, é necessário investir em infraestrutura. “Os EUA produzem o dobro que o Brasil em alguns alimentos, mas exporta menos. Há muito consumo interno. A boa notícia para o Brasil é que conseguimos exportar muito e podemos expandir a liderança em trading global de grãos”, disse João Alberto.
Ele completou falando que a visão deles é aumentar a posição competitiva do Brasil frente aos outros países. Neste sentido, ele explicou que com o rearranjo geopolítico do mundo o Brasil terá a oportunidade de se posicionar de uma forma diferente daqui para frente. “Garantir que nossa posição ambiental seja um ativo ao nosso país”, concluiu.
Land Grabbing: Financeirização da Agricultura e Mercado de Terras
Abrindo os painéis da tarde, Ricardo Faria, Presidente do Conselho da Granja Faria, André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, e Ivo Marco Brum, CFO da SLC Agrícola, subiram ao palco.
O CEO da BrasilAgro comentou sobre como a pandemia foi um divisor de águas para mostrar a importância do agronegócio. A respeito do preço de terras, ele disse que a leitura está muito atrelada aos preços das commodities. Segundo ele, um dos fatores decisivos para o incremento no preço da terra foi a segunda safra no Brasil.
Guillaumon também opinou que viu muitos avanços no setor, mas acha que falta uma visão estratégica, que o agronegócio vive muito do imediatismo de propostas. Neste sentido, Faria citou que o grande gargalo é a falta de compromisso do poder público com o desenvolvimento. Marco Brum complementou que a logística é um ponto crítico, mencionou que o Arco Norte já é uma realidade, “mas ainda há muito a melhorar”.
ESG também foi tema na roda. O CEO da BrasilAgro disse que o país tem capacidade para sair na frente na parte ambiental e, no social, é a atividade mais pulverizada do mundo inteiro com a oportunidade de ter vantagens na descentralização. O CFO da SLC Agrícola comentou o assunto e disse que na empresa muito está sendo feito em relação a segurança de trabalho e de educação.
Alimentando o Mundo: Brasil no Contexto Global
Já na parte final do evento, Adriano Pires, Conselheiro Independente da Caramuru e Sócio-diretor da CBIE, e José Eduardo Miron, CEO da Frigol, discutiram sobre o posicionamento do Brasil em relação ao resto do mundo.
Pires explicou que o Brasil tem um desafio enorme em integrar o setor de energia com o agro. Para ele, é importante usar nossa diversidade de fontes primárias de energia para diminuir a dependência da água e poder ser mais direcionada para o agronegócio, consequentemente diminuindo o receio de racionamento que o país tem todo ano quando chove pouco e aumenta o preço da energia.
Referindo-se a como está a dinâmica mundial atualmente, a guerra entre Rússia e Ucrânia impulsionou a preocupação com segurança alimentar e energética. “Essas duas coisas andam juntas. Nisso, o Brasil é craque”, disse Pires.
Seguindo nesta linha, Miron falou que o Brasil tem benefícios que o mundo está conspirando a favor, como a questão da segurança alimentar e a geopolítica que começa a ter maior importância. “Essa briga entre EUA e China cria uma oportunidade para alimentarmos o mundo”. “O agro é a vitrine do Brasil, algo que deveria ser mais repetido”, finalizou.
Outlook para o Mercado de Etanol
Por fim, no último painel do evento, Felipe Vicchiato, CFO da São Martinho, e Rafael Abud, CEO da FSBIO Energia, comentaram como está se comportando o mercado de Etanol. Vicchiato explicou que a queda do etanol teve como parte a questão tributária e queda do petróleo. Ele ainda pontuou que de maio até hoje o preço da gasolina repassada pela Petrobras caiu 20%.
Especificamente sobre a São Martinho, ele abriu que 80% dos custos são agrícolas, como defensivos, fertilizantes e maquinários. “Nos últimos dois anos, antes da pandemia, o fertilizante subiu na ordem 1.5 vezes, maquinário mais que dobrou de preço e o diesel subiu 60% ano contra ano. Diferentemente do preço da gasolina, que vem caindo, o diesel – importante para o maquinário – cai menos proporcionalmente. A gente da São Martinho tem um custo caixa de R$ 2,6 por litro de etanol e o açúcar de R$ 1800 por tonelada”, contou.
Abud, por sua vez, explicou como a inflação influencia as indústrias, mas, no caso da FSBIO, o impacto foi menor. “90% do nosso custo estava blindado ao movimento de curto prazo da inflação, o que ajuda a navegar neste momento de menor competitividade do etanol”, finalizou.
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