Parece que as temperaturas mais amenas não serviram de alento para uma semana que, tenho certeza, a maioria de nós está feliz por ter acabado.
Antes de entrar nos temas selecionados, quero oferecer meus sinceros agradecimentos pelos elogios e felicitações que recebi por conta da comemoração da carta #100 na semana passada. Sinto que falta ainda muito chão para as 10 mil horas de prática exigidas para se obter proficiência no assunto, mas, como diz o ditado, longas caminhadas só começam quando se dá o primeiro passo!
NarrativasTempestade perfeita ou não, há uma enxurrada de narrativas para tentar explicar o mau humor generalizado instalado, e piorado esta semana, nos mercados financeiros. De um lado, nossas próprias mazelas: ruídos e provocações políticas, o vai-e-vem da reforma tributária, um banco central acenando com sucessivos aumentos de juros, pressões inflacionárias que não parecem tão passageiras assim, e o rombo recém-descoberto dos precatórios. Como se não bastasse, mundo afora, além das desconfianças com a economia chinesa, e o medo de novos lockdowns, temos a confusão no Afeganistão e o banco central americano (Fed) alertando sobre a possibilidade de retirada de estímulos – trazendo mais um anglicismo para nosso dicionário, o tal do “tapering”. Confesso que gostava mais do “soft landing” (aterrissagem suave) que tanto se usou depois da crise de 2008, mas que parece ter virado démodé. Quando as nuvens parecem carregadas demais, faço um esforço redobrado em tentar equilibrar a balança com aquilo que sim está funcionando – o que o americano habilmente classifica do lado “copo meio cheio” da coisa. Por exemplo, há real progresso nos níveis de vacinação e reabertura das economias, e ainda que preocupante, tudo que está acontecendo no Brasil não destoa muito da história econômica recente do país.
MM200Uma das narrativas que andam circulando é sobre a tal MM200, ou média móvel de 200 períodos do índice Ibovespa. Acho que o assunto merece explicação. Sempre que alguém aqui em casa embarca numa jornada de perda de peso (não mencionarei nomes para proteger os culpados), recomendo olhar apenas a média móvel mensal das medidas da balança. Ou seja, ao se pesar toda semana, proponho não considerar aquele número, e sim a média simples daquela observação com os valores das 3 semanas anteriores. Uma média móvel, que vai descartando a medição mais antiga em favor da mais recente, tende a suavizar o progresso e evitar que efeitos passageiros (aquela pizza na noite anterior) mascarem a real evolução do projeto pessoal. A MM200 do Ibovespa é exatamente isso, uma forma de suavizar o ruído das oscilações diárias. Esta média, que estaria próxima do patamar de 117 mil pontos, é amplamente utilizada por vários agentes de mercado como ponto de inflexão para análises e tomada de decisão. Segundo este tipo de análise, se a bolsa atravessa esta média, é um sinal que dispara uma série de ações, algumas automatizadas e instantâneas. Meu ponto é simples: parece-me no mínimo arbitrário, e no limite perigoso, quando uma grande parte dos agentes do mercado (grandes investidores, tesourarias de bancos, gestores profissionais, …) se apega à este “sinal”. Numa releitura da antiga propaganda do biscoito Tostines em ’84: a bolsa cai por deterioração de fundamentos, ou apenas cai porque cai, “violando” uma barreira matemática?
Gestão de Risco Um dos pilares do trabalho de um family office é a gestão de risco. Parte de um profundo conhecimento das necessidades e tolerâncias de cada família, e culmina com a seleção criteriosa de veículos de investimento – sempre respeitando o dever fiduciário de preservação de capital. Momentos mais agitados como o atual nos relembram da importância deste trabalho. Ao escolher gestores e casas onde investimos o patrimônio de nossos clientes, um critério importante é o tamanho da parcela dos recursos detido pelo investidor de varejo. Diferentemente do investidor institucional, o pequeno investidor de varejo chegou ao fundo provavelmente através de um “supermercado” de investimentos. Ainda que a popularização e democratização de acesso à fundos deva ser comemorada, muitas vezes o investidor de varejo não entendeu bem aquilo que lhe foi vendido, e pode querer sair do investimento ao se assustar com um retorno abaixo do esperado (ou até prometido). Fundos mantém uma parcela de seus recursos em caixa não só para cobrir custos e ter margem de manobra para alocações, mas, principalmente, para honrar resgates. Uma avalanche de resgates, de milhares de pequenos investidores, gera um real problema de liquidez nestes veículos, forçando o gestor a vender bons ativos às pressas, e à preços desfavoráveis. Ao escolher fundos com menos exposição à este tipo de corrida ao resgate, protegemos melhor o patrimônio de nossas famílias. Assim como o fenômeno da MM200 acima, uma onda de resgates causada por percepções de risco deslocadas, acabam virando profecias autorrealizáveis no que tange à pressão negativa nos mercados.
Retornos Razoáveis, Adendo Quero fazer um adendo à série que discutiu qual o retorno razoável a ser utilizado em simulações de longo prazo, para o portfolio como um todo. Na semana passada, conclui com a sugestão de se fazer uma análise contemplando 3 cenários, e ofereci alguns números de referência. Importante aqui considerar que tanto a tolerância ao risco de cada família, assim como a própria capacidade para aceitá-lo, devem fazer parte da análise. Os números que propus são bons pontos de partida, e assumem um perfil moderado de investidor. No entanto, precisam ser ajustados conforme as particularidades de cada situação. Ainda que o Excel teime em mostrar a linearidade da evolução do patrimônio, a vida real tem momentos de bonança e momentos de tormenta. O adequado dimensionamento do risco evita que se usem expectativas de rentabilidade incompatíveis com as preferências de cada família.
Nós, os seres humanos, somos excelentes máquinas de reconhecimento de padrões. O estudo de vieses comportamentais, principalmente os econômicos, são tentativas de mapear este fenômeno. Nas artes, não é diferente. Depois da minha recomendação de “Dean Town” na carta passada, muitos podem ter se perguntado o que faria uma arena inteira cantarolar junto com uma linha de baixo, em uma composição 100% instrumental. Tenho uma teoria. Na música ocidental, principalmente no rock e no pop, há uma sequência de 4 acordes que é universalmente reconhecida como uma das maiores produtores de hits. Conhecida como “I–V–vi–IV”, estes 4 acordes tem apelo universal. Aposto que meu leitor não tem dedos nas mãos (e nos pés!) para contar quantos de seus sucessos favoritos, nacionais e internacionais, usam esta progressão. Uma variante desta sequência de acordes muda apenas um dos componentes, e é conhecida como “I–V–♭VII–IV”, que, coincidentemente, é justamente a linha melódica que abre e permeia “Dean Town”. Para os curiosos, o baixo inicia seu solo em torno das notas F#, C#, E e B. Pois bem, a dica é para a excelente montagem que o grupo australiano “Axis of Awesome” fez em cima deste conceito. O vídeo, que pode ser conferido aqui, tem incontáveis sucessos, todos encadeados em rápida sequência, baseados nesta mesma sequência de 4 acordes. Quase 6 minutos de pura diversão, que eu garanto vão deixar um sorriso estampado no seu rosto! Em tempo, a progressão usada durante o vídeo inteiro parte do acorde de Mi maior, e portanto delineia E, B, C#m e A.
Esta carta semanal tem o objetivo de fazer um apanhado breve e bem-humorado das notícias do mercado financeiro, com foco nos temas de gestão de riqueza e planejamento financeiro. O texto não constitui nenhuma oferta de produto financeiro, ou recomendação de investimento. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem o posicionamento oficial da Portofino Multi Family Office. Pedro Saboia é sócio da Portofino Multi-Family Office, investidor profissional, CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA), e Consultor de Valores Mobiliários autorizado pela CVM, conforme instrução 592. A Portofino cuida das pessoas para que alcancem um futuro financeiro equilibrado – com ética, transparência e responsabilidade. Quer conhecer mais? Agende uma conversa conosco!
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