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Semana curta nos mercados financeiros, com o feriado de “labor day” nos EUA, na segunda-feira, e nosso feriado nacional na terça, porém com forte carga emocional e política.

Para completar, amanhã temos o aniversário de 20 anos dos ataques de 11 de setembro (“9/11”) aos EUA. Ainda que me lembre como se fosse ontem, me dei conta que há toda uma geração de jovens para quem a data talvez tenha pouca relevância. Na época, ainda durante minha carreira corporativa, era responsável por TI em uma multinacional de telecom. Além de traumático em mais níveis do que se possa imaginar, o evento inaugurou uma nova era de foco empresarial em planejamento de contingência, e recuperação de desastres.

Na busca por fazer sentido de uma semana tão desconcertante e beligerante para nosso pais, recorro novamente à uma citação atribuída ao escritor Mark Twain: “I’ve lived through some terrible things in my life, some of which actually happened.” – numa tradução livre, “já passei por coisas terríveis em minha vida, algumas das quais realmente ocorreram”.
Mares Revoltos
Na carta passada comentei sobre os impactos da situação atual na performance recente de nossos investimentos. A temperatura aumentou depois das falas do presidente no dia 7, causando repiques expressivos nos juros futuros e no dólar, e uma queda significativa de 3,78% na bolsa. No dia seguinte (ontem), ao final da tarde, uma nota oficial interrompeu a escalada do pessimismo e, até o momento em que escrevo estas linhas, parece querer permitir um fechamento de semana mais tranquilo. Ainda que estejamos muito longe do caos instalado em Março de 2020 por conta da eclosão da Covid, há lições que podemos trazer para o momento atual. Minha recomendação é que adotemos a mesma postura daquela época, e isso quer dizer preservar a calma e manter o curso em termos de estratégias de investimento. Insisto, não é nem polianismo (positividade exagerada) nem o que os americanos chamam de efeito “deer in headlights”, quando cervos ficam petrificados pelas luzes de faróis, incapazes de sair da frente do automóvel que se aproxima. A sólida construção de portfólio, aliada à uma gestão ativa, mostra seu valor principalmente nos momentos de stress.
NFT
Desde a carta #80, quando tentei (creio que em vão), explicar o que são NFT´s (“non-fungible tokens”), tenho me cobrado uma forma mais didática de retornar ao assunto. O mercado financeiro é ambiente fértil para inovações em termos de ativos negociáveis, e NFT´s talvez sejam o expoente da vez. Esta semana, numa brincadeira com minha filha mais velha, nos lembramos do fenômeno que foi o bichinho de estimação virtual “Pou”. Uns 7 anos atrás, numa longa viagem ao interior, minhas filhas me infernizaram para deixá-las “investir” 2 reais na compra de um bichinho destes, que precisa ser virtualmente alimentado e cuidado para que cresça saudável. Qualquer semelhança com os chaveirinhos tamagotchi lançados no Japão na segunda metade dos anos 90, não é mera coincidência. Pois bem, o tal Pou não é tecnicamente um NFT, já que, por não ser único, é fungível. No entanto, o arquivo digital da imagem do Pou original poderia sim ser um ativo exclusivo, e portanto passível de negociação (e até eventual especulação) por parte de colecionadores. Deixo de dever de casa ao leitor googlar a foto do tal bichinho, já que o decoro editorial me impede de incluí-la aqui! 
Bitcoin
Um assunto que me parece passou desapercebido esta semana foi a confusão em El Salvador com a adoção do bitcoin como moeda oficial. A “Ley Bitcoin”, aprovada em junho deste ano, estabeleceu 7 de setembro como a data a partir da qual a criptomoeda seria aceita oficialmente no país. Pessoalmente, me parece uma experiência ousada. O “senhor mercado” parece concordar, já que naquele dia a moeda teve uma queda do patamar de 52 mil usd para 47 mil – ou algo como 10%. Do ponto de vista do povo daquele pais, seria como ver o dólar que hoje ronda os 5,20 reais saltar para 5,70 – de um dia para o outro! Já sob a ótica de relevância mundial para a validação desta criptomoeda, sinceramente acho que um evento mais significativo seria ver o Sr. Musk (Tesla) voltar à aceitar bitcoins pelos seus carros.
Risco, Episódio 2
Retomo o assunto da definição da palavra “risco”, no contexto de investimentos. Meu primeiro objetivo é sustentar a tese de que o grau de variação nos preços de um ativo não serve como uma boa medida de risco, ou pelo menos não de forma isolada. Para tanto, faço o uso do artifício da contraprova, buscando exemplos de ativos cuja falta de “balanço” não os torna necessariamente de baixo risco, e vice-versa. Imaginemos que meu leitor empreste 100k para seu cunhado (sempre eles!), por 12 meses, à um juros camarada de 10% ao ano. Se você é como eu, faria uma contabilidade mensal de tal ativo em sua planilha, capitalizando-o à 0,8% ao mês. Zero de variabilidade, com total expectativa de receber os 110k um ano depois. Lá pelo décimo mês, num almoço de domingo, você descobre que talvez os recursos atrasem “um pouco” para serem devolvidos – talvez até “um muito”. Aquilo que era uma rentabilidade certa, com nenhuma variação mensal, corre o risco de virar um write-off (baixa contábil). Exagero? Infelizmente, milhares de investidores na debenture de uma concessionária de rodovias sofrem atualmente do mesmo cenário. 
Riscos, Episódio 3
Adiantando as cenas dos próximos capítulos, falemos de imóveis. Imóveis são o tipo de ativo onde a gente raramente contabiliza variação em preço, especialmente naquela nossa planilha da ativos pessoais. Talvez, anualmente, façamos alguma previsão de ganho, com base nas condições de mercado, mas a maioria dos investidores que conheço prefere ser conservador e deixar o preço originalmente pago como base – aquele que consta no IR. Pois bem, podem transcorrer anos em que o valor daquele ativo permanece inalterado – de novo, zero de volatilidade. Agora, imaginemos um cenário neurótico em que, a cada dia, perguntássemos ao zelador do prédio, ao corretor de confiança, e àquele vizinho enturmado, qual o preço do metro quadrado das últimas ofertas e transações fechadas, atualizando nossa estimativa. Veríamos um preço de ativo com enorme variabilidade diária, ao sabor de descontos, benfeitorias, e oportunidades especiais, que em nada mudaria o fato de que imóveis são, em sua maioria, bens de baixo risco.



Esta semana, faço uma mudança de marchas brusca, e literal, para falar não de música ou cinema, e sim de carros. A dica da semana é pelo video de lançamento do “Tesla Model S Plaid”, disponível aqui. Os que me conhecem bem sabem que, posso até ser forçado à ter um elétrico nesta vida, mas, carro para mim tem que ter cambio manual, folga na caixa de direção e pingar óleo. Entretanto, impossível não tirar o chapéu para a incrível criação de Musk, quebrando a barreira dos 0 a 100 km/h abaixo de 2 segundos. Além do vídeo de apresentação, o youtube, na sua infinita busca por tomar um pouco mais do meu tempo livre, tem sugerido incontáveis vídeos de amadores testando a arrancada da máquina. Por falar em máquina, impossível não achar que o volante do Plaid é uma cópia do volante do K.I.T.T. do Knight Rider (“A Super Máquina”, seriado americano dos anos 80). E o nome do carro? Bem, aparentemente tanto a velocidade “ludicrous”, como o nome “plaid” são emprestados do filme Spaceballs  (“Tem um Louco Solto no Espaço”) de 1987 – uma divertida paródia ao filme Star Wars. O clip da cena em que ambos termos aparecem pode ser conferido aqui. Pelo jeito, Elon é tão fixado nos anos 80 quanto eu!

Esta carta semanal tem o objetivo de fazer um apanhado breve e bem-humorado das notícias do mercado financeiro, com foco nos temas de gestão de riqueza e planejamento financeiro. O texto não constitui nenhuma oferta de produto financeiro, ou recomendação de investimento. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem o posicionamento oficial da Portofino Multi Family Office.
Pedro Saboia é sócio da Portofino Multi-Family Office, investidor profissional, CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA) e Consultor de Valores Mobiliários autorizado pela CVM, conforme instrução 592. A Portofino cuida das pessoas para que alcancem um futuro financeiro equilibrado – com ética, transparência e responsabilidade. Quer conhecer mais? Agende uma conversa.