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Causa e Efeito | 08.08.22

Causa e Efeito | 08.08.22

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Tempo do áudio e leitura: 4 mins

Família Portofino,

O mercado brasileiro foi bastante movimentado na última semana com mais uma reunião do Copom. O que todos esperavam se concretizou: alta de 0,5 ponto percentual, a 12ª consecutiva, para jogar os juros para 13,75% ao ano. Porém, o que mais importou foi o comunicado que veio com a divulgação.

O Banco Central deixou em aberto para setembro a possibilidade de mais uma elevação, de menor magnitude, mas o que foi entendido pelo mercado como um sinal de que o ciclo de alta pode estar realmente chegando ao seu fim. A resposta a isso veio no pregão do dia seguinte, com o otimismo dos agentes econômicos, a Bolsa brasileira destoou lá de fora e disparou para uma alta de 2,04%, a 105.892 pontos na sexta-feira. E não foi só isso, depois de um período no vermelho, o Ibovespa voltou a ficar no azul. Nesta segunda-feira, fechou a 108.402 com nova alta de 1,81%.

Brasília/DF 04/05/2022 – Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BC

É bem verdade que não podemos dar todas as glórias ao Copom. Esse movimento já vinha acontecendo e a decisão da última quarta-feira (3) ajudou a ratificar essa tendência. Isso fica claro quando, por exemplo, olhamos o desempenho das ações de consumo nos últimos 30 dias, com uma valorização de 10%. A sensação de estarmos próximos do fim do ciclo de aperto monetário também fez com que as taxas prefixadas caíssem.

Chegou a hora de aumentar a posição em ações, então? Não é bem assim. Como falei em recente entrevista ao portal Brazil Journal, do ponto de vista de valuation, é consensual que a Bolsa está barata, mas na nossa avaliação temos uma recessão contratada. A dúvida é quanto disso já está no preço, tanto a intensidade quanto a duração.

Do outro lado do mundo

Vamos atravessar o oceano para ver também o que está acontecendo além de nossas fronteiras. Spoiler: as coisas não estão boas. 

Além de toda a preocupação com a inflação mundial, medo de recessão global e juros subindo a níveis não vistos há anos em todos os lados, como se já não fosse o bastante, aparentemente há espaço para temer mais uma guerra. Depois do confronto entre a Ucrânia e a Rússia, que já se alonga por mais de 5 meses, as tensões agora crescem no continente asiático.

A recente visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Estados Unidos, a Taiwan, deixou os chineses furiosos. Numa espécie de “depois não diz que não te avisei”, o governo chinês vinha alertando os americanos sobre os impactos dessa viagem. E não deu outra. Bastaram poucas horas depois de Pelosi aterrissar em Taipé para a China anunciar “exercícios militares” ao redor da ilha. O medo já está instaurado. O mercado já acompanha de perto os movimentos na região que podem desencadear em mais uma guerra, desta vez com as duas maiores economias do mundo. 

Mapa China e Taiwan / Arte: CNN Brasil

Seria esse o prenúncio de mais um evento de consequências catastróficas para um mundo que ainda lida com as marcas deixadas – e que ainda continuam por aí – pela Covid-19 e que diariamente se depara com notícias de uma guerra que parece não ter fim? É difícil dizer, há muito em jogo, mas é de bom-tom afirmar que precisamos de soluções e não mais problemas.

Até a próxima!

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

“Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.

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Causa e Efeito: 22.07.2022

Causa e Efeito: 22.07.2022

Família Portofino,

Com as taxas de juros em 13,25%, provavelmente migrando para 13,75% na próxima reunião do Banco Central do Brasil, no dia 3 de agosto, a recomendação de privilegiar a renda fixa pós-fixada nos portfólios locais tornou-se relativamente óbvia. Quando se fala em alocar nessa categoria de investimentos, estamos falando muitas vezes em substituir o chamado risco de mercado, expresso na variação das taxas prefixadas, juros reais, renda variável e câmbio, por exemplo, por risco de crédito.

Segundo os dados da ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – a indústria de fundos de renda fixa captou liquidamente cerca de R$ 200 bilhões nos últimos 12 meses, enquanto os fundos de renda variável e multimercados sofreram resgates próximos de R$ 48 bilhões e R$ 85 bilhões, respectivamente. Essa demanda bilionária por ativos de renda fixa aqueceu o mercado de emissões privadas, incentivando empresas e instituições financeiras a captar via emissão de dívidas. 

Banco Central - Portofino

É essa crescente demanda  de títulos privados no mercado local que nos preocupa. Diferentemente do que se observa no mercado externo, nossa precificação de ativos de crédito tem se mostrado contra cíclica. Em um mercado onde as bolsas de valores caem lá fora em média 20%, os juros vêm sendo elevados bem acima das médias recentes, a inflação se mantém pressionada, onde já está contratada relevante desaceleração da atividade com risco de recessão, o que se esperaria dos preços dos ativos de crédito? Que eles piorassem, certo? Sim, o mercado high yield americano, o qual engloba as empresas com um pouco mais de risco crédito, viu suas taxas pagas acima das do tesouro americano subirem de 2,8% para quase 6% ao ano em 2022.

No mercado local, essa dinâmica tem sido bem diferente. A demanda por títulos privados tem sido tão grande que na prática não se nota a adequação da remuneração das emissões privadas para um cenário no mínimo mais desafiador. O crescimento da economia tem sido revisado para baixo, diversos setores têm tido margens e lucros pressionados, quando listadas na bolsa, valor de mercado das empresas tem sido corrigido significativamente, tudo isso a despeito de correção equivalente na remuneração de suas emissões de dívidas domésticas.

O que deveríamos esperar das taxas pagas por uma debênture cuja empresa viu seu valor de mercado cair quase 70% e seus títulos emitidos no exterior perderam por volta de 20%? Que tivesse algum tipo de ajuste, certo? Errado. Este é o exemplo da debênture da Natura Cosméticos, que apesar do ajuste dos preços das suas ações e bonds no exterior, não se verificou internamente a alteração de preço das suas debêntures. O exemplo da Natura é um de vários que corroboram com a nossa tese de que a crescente demanda por títulos de renda fixa vem distorcendo o prêmio do risco de crédito das emissões de empresas no mercado doméstico. Hoje, é comum encontrarmos papéis emitidos por companhias no exterior que convertidos para CDI remuneram 3%, às vezes 4%, ao ano a mais quando comparados aos emitidos em reais no mercado local.

Nesse ambiente de grandes incertezas onde os juros provavelmente se manterão altos por mais tempo, a estratégia de crédito privado continuará a ter destaque nos nossos portfólios. Entretanto, os spreads comprimidos por questões técnicas distorcem o preço justo das emissões. Temos sido bastante criteriosos na aprovação de novos nomes, preferindo emissões que incluam algum tipo de colateral ou garantia. Por várias vezes, preferimos ficar de fora de algumas emissões mesmo gostando do risco incorrido, porém discordando da remuneração. As emissões externas nos parecem mais premiadas, desta forma também consideramos a alocação de parte da estratégia de crédito privado nessas operações de forma “hedgeada” para reais. Além de não renunciarmos ao carregamento do CDI, acessaremos um mercado onde as taxas estão mais atrativas e ajustadas à realidade do cenário, diferentemente do que observamos localmente.

O risco de crédito no Brasil é por muitas vezes silencioso em função da menor liquidez desses ativos, e pode surpreender via ajuste repentino da marcação a mercado. Desta forma, recomendamos cautela na alocação por impulso. Nestes casos, a análise da remuneração justa e adequada ao risco tem sido parte tão relevante na nossa  análise quanto o próprio escrutínio da capacidade financeira da empresa em honrar o pagamento da dívida.

Até a próxima!

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

 ”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.

Causa e Efeito | 08.08.22

Causa e Efeito: 23.06.2022

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Tempo do áudio e leitura: 5 mins

Família Portofino,

Descrevemos o recente comportamento dos mercados como sendo bipolar. O sentimento dos agentes tem oscilado entre a torcida por um pouso suave das economias à medida que os bancos centrais elevam os juros na tentativa de conter o atual surto inflacionário e o medo de que essa elevação produza uma recessão. A divulgação dos dados de inflação, ações e comunicação, principalmente do banco central americano, ditam o rumo desse movimento pendular.

Há pouco mais de duas semanas, foi divulgada a inflação de maio nos Estados Unidos. Mais uma vez surpreendendo os analistas, a inflação dos últimos 12 meses chegou ao seu maior nível dos últimos 40 anos. Desde então, os investidores entraram no modo redução de risco, acarretando significativo ajuste da maioria dos ativos financeiros mundiais. O mercado de ações americano, por exemplo, viu evaporar por volta de 3 trilhões de dólares no valor das companhias. Colocando em perspectiva, esse valor é quase cinco vezes o valor de mercado de todas as empresas que integram o IBOVESPA.

Por outro lado, alguns indicadores demonstram que a magnitude do ajuste observado até agora não é desprezível. Hoje, apenas 18% das ações que compõem o S&P500 estão acima das suas médias de preços dos últimos 12 meses. Dessas, a maioria concentra-se no setor de energia que, diga-se de passagem, é o único dos 11 setores que compõem o índice que se apresenta com resultado positivo em 2022.

É creditado a Warren Buffett, um dos mais bem sucedidos investidores da história contemporânea do mercado financeiro, a máxima de que os investidores deveriam ser cautelosos quando os outros forem gananciosos e serem oportunistas quando os outros estiverem em pânico. Um índice qualitativo bastante utilizado para medir a razão entre otimistas e pessimistas em relação ao desempenho das bolsas americanas, encontra-se no segundo pior nível desde 1991, só perdendo para o ápice da crise financeira internacional de 2008/2009.

É verdade, porém, que do ponto de vista do preço é difícil afirmar que estamos diante de uma barganha. Se tomarmos o múltiplo Preço / Lucro como referência, os níveis atuais ainda apontam para menos de um desvio padrão da média dos últimos 10 anos.  Neste período, ainda observamos quase 30% dos dias mostrando o S&P500 em níveis mais baratos do que observamos hoje. Sim, está barato, mas não se pode descartar que fique ainda mais.

Na renda fixa, a análise chega a conclusões semelhantes. O índice da Bloomberg que reproduz uma carteira de ativos de alta qualidade de crédito, incluindo títulos emitidos pelo tesouro americano, tem o pior desempenho dos últimos 30 anos para o primeiro semestre. Os títulos corporativos que compõem essa carteira já pagam taxas acima dos níveis observados no pior momento da pandemia.

Caso a economia americana caminhe de fato para uma recessão, é de se esperar uma correção adicional dos mercados. Não tem sido incomum conviver com projeções de mais de 30% de probabilidade para este cenário de desaceleração nos próximos 18 meses. Um atenuante, é a constatação de que o FED hoje corrobora com o esperado pelo mercado.  As taxas observadas na curva de juros americana são bem semelhantes ao cenário sugerido pelos diretores do FED. Há apenas 3 meses, os mercados precificavam um nível de juros muito superior ao sinalizado pelo banco central americano.

O mercado, na prática, é minimalista na sua análise. Apesar de os preços dos ativos serem impactados por diversos fatores, os gestores e estrategistas concentram sua atenção para aqueles de maior relevância e, agora, este tema principal é a política monetária americana. Mencionamos este fato só para lembrar que nossa eleição presidencial está apenas aquecendo os motores e certamente impactará a volatilidade do mercado local nos próximos meses. Mas, isso será assunto para outra conversa.

Dissemos em nossa última carta que as nossas carteiras já vinham carregando menor risco, de forma geral, e nos mantemos assim. Mas, atentos aos ensinamentos de Warren Buffett, estamos monitorando o pânico dos mercados para não perder o que poderá vir a ser a maior oportunidade dos últimos anos.

Até a próxima!

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

 ”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.

E mais:

Portofino Insights – A nossa head de Wealth Planning, Victória Siqueira, apresenta oportunidades sobre tributação do ITCMD, clique e confira.


Causa e Efeito | 08.08.22

Causa e Efeito: 27.05.2022

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Família Portofino,

Faz algum tempo desde que nos falamos pela última vez. A grande verdade é que, pelo menos do lado macroeconômico, pouco se alterou desde então. Nós, investidores, continuamos debatendo sobre a capacidade dos bancos centrais em lidar com o recente surto inflacionário pós-pandêmico sem que suas ações provoquem um choque recessivo sobre as economias. Esse desafio não se cansa de surpreender a todos dados os sucessivos impactos sobre preços de forma geral.

Já elaboramos neste mesmo fórum, a respeito dos efeitos do crescimento abrupto da demanda por bens durante a pandemia e posterior impacto sobre serviços com a retomada da mobilidade. Falamos também das consequências, além das questões humanitárias, do conflito Rússia-Ucrânia sobre principalmente alimentos e energia. Isso sem deixar de mencionar o custo da desglobalização, da transição energética para uma matriz mais limpa e da nova interrupção das cadeias de produção na China em função de sua política de tolerância zero à propagação de novos casos da COVID-19 e consequentes lockdowns.

Desde então, os analistas vêm alterando suas projeções de crescimento e inflação para, sem exceção, todas as regiões do mundo. Considerando os Estados Unidos e Europa como exemplos, em meados do ano passado projetava-se uma inflação para 2022 não superior a 3%. Nos dias atuais, com todas as surpresas que mencionamos acima, não se espera nada abaixo de 7%. Com o crescimento, aconteceu exatamente o contrário. No início do segundo semestre de 2021 os analistas previam, em média, que as economias americana e europeia cresceriam acima de 4%. Hoje, falar em 2,5% ou menos, passou a ser absolutamente corriqueiro.

Em estágios diferentes, bancos centrais das nações desenvolvidas e emergentes já iniciaram o processo de aperto monetário, mas a tarefa não cansa de se mostrar cada vez mais desafiadora. Mas, se por um lado, o cenário macroeconômico continua nebuloso e com baixa visibilidade, já para os preços dos ativos, a estória começa a parecer diferente. O mercado global de renda fixa, considerando predominantemente os mercados mais desenvolvidos, está tendo em 2022 seu pior desempenho dos últimos 30 anos! De forma agregada, esse mercado cai no ano mais de 10%. Sim, renda fixa, internacional, mercados desenvolvidos e em dólares com rentabilidade negativa.

Confira: Wealth Management: Saiba tudo como funciona esse serviço e qual o momento correto para contratar

Nas ações americanas, leia-se S&P500, a queda nominal esse ano se mostra importante, por volta de 15%. Quando olhamos do ponto de vista de valuation, os preços das ações hoje contra suas projeções de lucro para os próximos 12 meses, mostram um múltiplo próximo da média dos últimos 10 anos. Não há que se falar em barganha, mas longe de se afirmar que os preços se encontram ainda em níveis exagerados. Se analisarmos somente o setor de tecnologia, o impacto é ainda maior. O índice NASDAQ, que concentra apenas ações desse segmento, cai quase 25%. Estratificando ainda mais essa amostra, o ETF ARKK, que agrega apenas companhias relacionadas a tecnologias ditas disruptivas, perde cerca de 2/3 do seu valor desde sua máxima atingida em meados do ano passado.

Isso tudo para dizer que, na linguagem do mercado financeiro, nos parece que já se tem muita coisa no preço. Temos observado alguma recuperação nos mercados nas últimas semanas, mas aqueles investidores mais pessimistas alertam para o que se convencionou chamar bear market rally. Em livre tradução, isso seria uma recuperação acentuada dos preços dos ativos no curto prazo em meio a uma queda mais estrutural no longo prazo. E por falar em pessimismo, índices qualitativos que medem o pessimismo dos investidores mostram-se próximos de seus piores níveis dos últimos 30 anos. Estes indicadores costumam ser ótimos previsores de reversão dos mercados.

Faz alguns meses, nossas carteiras já vinham carregando menor risco de forma geral. Nossa estratégia de renda variável tem sido mais defensiva tanto do ponto de vista do tamanho quanto da composição dos ativos. Privilegiamos o carregamento de ativos pós-fixados, indexados à inflação e de prazos (duration) mais curtos. Não vamos queimar a largada, mas o nosso desconforto hoje está mais em identificar oportunidades que, no longo prazo, se mostrarão certamente rentáveis, do que continuar reduzindo risco. São nesses momentos, com cautela sempre, é verdade, que se ganha dinheiro.

Uma ótima sexta-feira e final de semana para você.

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

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Causa e Efeito 26.04.2022

Causa e Efeito 26.04.2022


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Família Portofino,

Após um mês de março onde basicamente todas as classes de ativos performaram satisfatoriamente, caminhamos para o fim do mês com resultados menos auspiciosos. O que alterou de fato nesse ínterim para justificar a realização que observamos principalmente nos mercados acionários e, mais recentemente, na desvalorização do real? Do ponto de vista macro, não muito, é verdade. O principal tema continua a ser o desafio dos bancos centrais, principalmente aqueles dos países desenvolvidos, em lidar com uma inflação disseminada e crescente sem que suas ações afetem significativamente a atividade econômica.

Para termos noção do quão hercúlea é essa missão, segundo a revista The Economist desta semana, nos últimos 60 anos, somente em três oportunidades o banco central americano, o FED, conseguiu administrar a redução da inflação sem que houvesse uma desaceleração importante da economia. E em nenhuma delas, ele teve que lidar com um volume de estímulos tão expressivos como os de agora, uma injeção de dinheiro novo em volumes sem precedentes e taxas de juros reais negativas, portanto estimulativas, por tantos anos.

É esse equilíbrio instável entre a necessidade de se combater o aumento generalizado de preços de um lado e uma potencial recessão, do outro, que vem afetando o humor dos investidores. Agravando a situação, ainda se tem a percepção de que o FED está atrasado nesse processo corretivo. Ter que correr atrás do atraso justamente por não ter iniciado o movimento de subida de juros há mais tempo, joga sobre as expectativas a sombra do erro. Exatamente por não ter se antecipado ao problema, corre-se o risco hoje de se precisar de uma dose maior do remédio para lidar com a doença. É como se diz: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. E nesse caso o paciente em risco é o crescimento mundial.

Confira: Carteira administrada: Saiba o que é, como funciona e para quem serve esse serviço

No mundo, temos indutores e receptores de crescimento. Os Estados Unidos, com a China, estão entre os principais indutores. Como se não bastassem todas as dúvidas em relação às chances de um pouso suave da economia americana capaz de arrefecer o problema inflacionário, temos recentemente convivido com as incertezas geradas pela nova explosão de casos da COVID-19 na China e insistência da estratégia de restrição à mobilidade imposta pelo governo chinês. Nas últimas 4 semanas estima-se que pelo menos 25 milhões de pessoas tenham sido impedidas de deixar as suas residências. Das 100 cidades que mais contribuem para o PIB chinês, pelo menos a metade delas ainda se encontra em lockdown ou com alguma categoria de restrição. Mais uma vez o mundo se vê em risco de ter que conviver não só com a potencial redução de consumo da China bem como com eventual disrupção adicional nas cadeias produtivas globais.

As incertezas quanto a continuidade do crescimento mundial nos níveis que observamos, na margem, permanecem e continuarão a ser a principal fonte de volatilidade para os mercados por algum tempo. Nos mantemos cautelosos nas alocações privilegiando ativos de renda fixa, preferencialmente isentos. Continuamos mais defensivos na estratégia de ações, porém mais agressivos na alocação em multimercados. Na nossa opinião, os multimercados macro são, desde que escolhidos de forma correta e técnica, os ativos mais preparados para se beneficiarem dessa incerteza que não amenizará tão cedo.

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

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Causa e Efeito 26.04.2022

Causa e Efeito | 02.04.2022

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Família Portofino,

A guerra entre a Ucrânia e a Rússia continua sem uma perspectiva real de cessar-fogo. Ainda digerindo as consequências inflacionárias do pós-pandemia, o mundo se vê atropelado por um novo e intenso choque de oferta, choque este que pressiona ainda mais os preços de energia e alimentos principalmente. Os bancos centrais que já vinham correndo atrás do problema, foram recentemente obrigados a endurecer seus discursos na direção de juros mais altos, contracionistas para crescimento, portanto.

O índice da Bloomberg que replica uma carteira global de títulos de renda fixa, soberanos e corporativos, de mercados desenvolvidos e emergentes, apresenta queda de cerca de 12% desde o seu máximo observado recentemente. Para colocar em perspectiva o tamanho da realização, esse resultado supera os piores momentos da crise financeira mundial de 2008 ou mesmo a queda observada durante o pior da pandemia.

Por outro lado, quando observamos o comportamento dos ativos domésticos, seja o câmbio ou mesmo a bolsa, temos um início de ano surpreendentemente positivo. Quando comparada a uma cesta de mais de 30 moedas de diversos países, o Real é de longe aquela que apresenta o melhor desempenho. No menor nível dos últimos dois anos, a cotação de 4,66 representa uma apreciação frente ao dólar de 19,7% no ano. Já o Ibovespa, na mesma direção, sobe incríveis 16%!

Gráfico demonstra cotação do Dólar em Reais desde 2020. Um bom momento para dolarizar parte do patrimônio.

No mercado financeiro, nos acostumamos a descrever como sendo uma tempestade perfeita, numa analogia aos desastres meteorológicos, momentos de elevação dos riscos que se vêm adicionalmente agravados por uma combinação rara e concomitante de circunstâncias. No Brasil hoje, vivemos uma tempestade perfeita às avessas.

Após ter sido criticado por derrubar nossa taxa de juros básica a inéditos 2% ao ano, o Banco Central do Brasil, como se reconhecendo o erro e seu efeito perverso sobre a taxa de câmbio e inflação, antecipou-se aos seus pares iniciando o ciclo de aumento da SELIC há praticamente um ano. A SELIC encontra-se em 11,75% estando já contratada um aumento adicional de 1% para a próxima reunião de maio. O FED, o banco central americano, só agora em março, iniciou sua estratégia de normalização movendo a banda da taxa básica americana do intervalo de 0%-0,25% para 0,25%-0,5% ao ano.

Saiba mais: Não é banco, nem corretora: Entenda o que é um Multi Family Office e quais os diferenciais entre os demais players do mercado

Diversas variáveis econômicas combinadas determinam a taxa de câmbio “justa”. Entre elas, sem dúvida o diferencial de juros entre dois países se apresenta como uma das mais relevantes. Os juros brasileiros superam os americanos em mais de 10% e esse diferencial acaba funcionando como um tremendo atrator de fluxo. Em um mundo de juros reais negativos, com a inflação no mundo desenvolvido indistintamente nos piores níveis dos últimos 30 anos ou mais, investir a 12% em uma democracia geopoliticamente estável tem sido considerado pelo investidor estrangeiro como uma alternativa viável.

É crescente o fluxo de investimento em portfólio por parte dos gringos tanto na renda fixa quanto na renda variável. O Ibovespa, por exemplo, já recebeu esse ano mais de US$ 83 bilhões de investidores internacionais, 12% a mais do recebido durante todo o ano passado. O movimento de rotação das carteiras desses investidores na busca por ativos menos sensíveis à elevação dos juros internacionais nos beneficiou.

Adicionalmente, a guerra na Europa forçou a redução de exposição em ações russas. Por serem economias emergentes relativamente comparáveis, as ações de empresas brasileiras tiveram fluxo adicional. A cereja do bolo.

Outro grande contribuidor para o aumento de fluxo financeiro para o Brasil vem sendo nosso saldo comercial beneficiado pela explosão dos preços das commodities. Grãos, petróleo e metais, em especial minério de ferro, já vinham tendo seus preços positivamente influenciados pela retomada da economia mundial. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia deu impulso adicional aos nossos termos de troca, beneficiando adicionalmente os preços das nossas exportações.

E os riscos? Do lado doméstico, sempre que falamos de riscos, a irresponsabilidade fiscal, descontrole das contas públicas e aumento da nossa dívida pública em proporção ao PIB sempre aparecem em destaque em qualquer enquete com investidores. Temos que reconhecer que não só a dinâmica fiscal, mas também a da atividade, vêm surpreendendo positivamente. Nosso crescimento superou as estimativas dos analistas tanto no último trimestre do ano passado como vem surpreendendo nos primeiros meses deste ano. No fiscal, nossa arrecadação vem sendo positivamente impactada pelo crescimento das exportações, pelos ajustes dos impostos relativamente corrigidos pela inflação, pelos gastos correntes ainda contidos – ausência de aumento para o funcionalismo, por exemplo – e por mais royalties do petróleo beneficiados pela elevação dos preços. A foto é inquestionavelmente boa apesar das indefinições eleitorais de como terminará esse filme.

Porto seguro, um exagero talvez. Mas, sem sombra de dúvidas, o Brasil se posiciona pelas razões que descrevemos acima, em mundo repleto de incertezas geopolíticas e econômicas, como um candidato natural a continuar recebendo investimentos diretos e financeiros. Por quanto tempo essa janela vai permanecer aberta, é difícil dizer. Mas depois do último semestre do ano passado, onde nos colocamos entre os ativos com pior performance no mundo, é bom tirarmos proveito dessa tempestade perfeita às avessas.

Um ótimo final de semana para você e sua família.

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

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