fbpx

Clique no ícone para ouvir no
Spotify e outros players.


Tempo do áudio e leitura: 5 mins

Família Portofino,

Descrevemos o recente comportamento dos mercados como sendo bipolar. O sentimento dos agentes tem oscilado entre a torcida por um pouso suave das economias à medida que os bancos centrais elevam os juros na tentativa de conter o atual surto inflacionário e o medo de que essa elevação produza uma recessão. A divulgação dos dados de inflação, ações e comunicação, principalmente do banco central americano, ditam o rumo desse movimento pendular.

Há pouco mais de duas semanas, foi divulgada a inflação de maio nos Estados Unidos. Mais uma vez surpreendendo os analistas, a inflação dos últimos 12 meses chegou ao seu maior nível dos últimos 40 anos. Desde então, os investidores entraram no modo redução de risco, acarretando significativo ajuste da maioria dos ativos financeiros mundiais. O mercado de ações americano, por exemplo, viu evaporar por volta de 3 trilhões de dólares no valor das companhias. Colocando em perspectiva, esse valor é quase cinco vezes o valor de mercado de todas as empresas que integram o IBOVESPA.

Por outro lado, alguns indicadores demonstram que a magnitude do ajuste observado até agora não é desprezível. Hoje, apenas 18% das ações que compõem o S&P500 estão acima das suas médias de preços dos últimos 12 meses. Dessas, a maioria concentra-se no setor de energia que, diga-se de passagem, é o único dos 11 setores que compõem o índice que se apresenta com resultado positivo em 2022.

É creditado a Warren Buffett, um dos mais bem sucedidos investidores da história contemporânea do mercado financeiro, a máxima de que os investidores deveriam ser cautelosos quando os outros forem gananciosos e serem oportunistas quando os outros estiverem em pânico. Um índice qualitativo bastante utilizado para medir a razão entre otimistas e pessimistas em relação ao desempenho das bolsas americanas, encontra-se no segundo pior nível desde 1991, só perdendo para o ápice da crise financeira internacional de 2008/2009.

É verdade, porém, que do ponto de vista do preço é difícil afirmar que estamos diante de uma barganha. Se tomarmos o múltiplo Preço / Lucro como referência, os níveis atuais ainda apontam para menos de um desvio padrão da média dos últimos 10 anos.  Neste período, ainda observamos quase 30% dos dias mostrando o S&P500 em níveis mais baratos do que observamos hoje. Sim, está barato, mas não se pode descartar que fique ainda mais.

Na renda fixa, a análise chega a conclusões semelhantes. O índice da Bloomberg que reproduz uma carteira de ativos de alta qualidade de crédito, incluindo títulos emitidos pelo tesouro americano, tem o pior desempenho dos últimos 30 anos para o primeiro semestre. Os títulos corporativos que compõem essa carteira já pagam taxas acima dos níveis observados no pior momento da pandemia.

Caso a economia americana caminhe de fato para uma recessão, é de se esperar uma correção adicional dos mercados. Não tem sido incomum conviver com projeções de mais de 30% de probabilidade para este cenário de desaceleração nos próximos 18 meses. Um atenuante, é a constatação de que o FED hoje corrobora com o esperado pelo mercado.  As taxas observadas na curva de juros americana são bem semelhantes ao cenário sugerido pelos diretores do FED. Há apenas 3 meses, os mercados precificavam um nível de juros muito superior ao sinalizado pelo banco central americano.

O mercado, na prática, é minimalista na sua análise. Apesar de os preços dos ativos serem impactados por diversos fatores, os gestores e estrategistas concentram sua atenção para aqueles de maior relevância e, agora, este tema principal é a política monetária americana. Mencionamos este fato só para lembrar que nossa eleição presidencial está apenas aquecendo os motores e certamente impactará a volatilidade do mercado local nos próximos meses. Mas, isso será assunto para outra conversa.

Dissemos em nossa última carta que as nossas carteiras já vinham carregando menor risco, de forma geral, e nos mantemos assim. Mas, atentos aos ensinamentos de Warren Buffett, estamos monitorando o pânico dos mercados para não perder o que poderá vir a ser a maior oportunidade dos últimos anos.

Até a próxima!

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

 ”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.

E mais:

Portofino Insights – A nossa head de Wealth Planning, Victória Siqueira, apresenta oportunidades sobre tributação do ITCMD, clique e confira.