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Família Portofino,

Após um mês de março onde basicamente todas as classes de ativos performaram satisfatoriamente, caminhamos para o fim do mês com resultados menos auspiciosos. O que alterou de fato nesse ínterim para justificar a realização que observamos principalmente nos mercados acionários e, mais recentemente, na desvalorização do real? Do ponto de vista macro, não muito, é verdade. O principal tema continua a ser o desafio dos bancos centrais, principalmente aqueles dos países desenvolvidos, em lidar com uma inflação disseminada e crescente sem que suas ações afetem significativamente a atividade econômica.

Para termos noção do quão hercúlea é essa missão, segundo a revista The Economist desta semana, nos últimos 60 anos, somente em três oportunidades o banco central americano, o FED, conseguiu administrar a redução da inflação sem que houvesse uma desaceleração importante da economia. E em nenhuma delas, ele teve que lidar com um volume de estímulos tão expressivos como os de agora, uma injeção de dinheiro novo em volumes sem precedentes e taxas de juros reais negativas, portanto estimulativas, por tantos anos.

É esse equilíbrio instável entre a necessidade de se combater o aumento generalizado de preços de um lado e uma potencial recessão, do outro, que vem afetando o humor dos investidores. Agravando a situação, ainda se tem a percepção de que o FED está atrasado nesse processo corretivo. Ter que correr atrás do atraso justamente por não ter iniciado o movimento de subida de juros há mais tempo, joga sobre as expectativas a sombra do erro. Exatamente por não ter se antecipado ao problema, corre-se o risco hoje de se precisar de uma dose maior do remédio para lidar com a doença. É como se diz: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. E nesse caso o paciente em risco é o crescimento mundial.

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No mundo, temos indutores e receptores de crescimento. Os Estados Unidos, com a China, estão entre os principais indutores. Como se não bastassem todas as dúvidas em relação às chances de um pouso suave da economia americana capaz de arrefecer o problema inflacionário, temos recentemente convivido com as incertezas geradas pela nova explosão de casos da COVID-19 na China e insistência da estratégia de restrição à mobilidade imposta pelo governo chinês. Nas últimas 4 semanas estima-se que pelo menos 25 milhões de pessoas tenham sido impedidas de deixar as suas residências. Das 100 cidades que mais contribuem para o PIB chinês, pelo menos a metade delas ainda se encontra em lockdown ou com alguma categoria de restrição. Mais uma vez o mundo se vê em risco de ter que conviver não só com a potencial redução de consumo da China bem como com eventual disrupção adicional nas cadeias produtivas globais.

As incertezas quanto a continuidade do crescimento mundial nos níveis que observamos, na margem, permanecem e continuarão a ser a principal fonte de volatilidade para os mercados por algum tempo. Nos mantemos cautelosos nas alocações privilegiando ativos de renda fixa, preferencialmente isentos. Continuamos mais defensivos na estratégia de ações, porém mais agressivos na alocação em multimercados. Na nossa opinião, os multimercados macro são, desde que escolhidos de forma correta e técnica, os ativos mais preparados para se beneficiarem dessa incerteza que não amenizará tão cedo.

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

 ”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.