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Família Portofino,

Faz algum tempo desde que nos falamos pela última vez. A grande verdade é que, pelo menos do lado macroeconômico, pouco se alterou desde então. Nós, investidores, continuamos debatendo sobre a capacidade dos bancos centrais em lidar com o recente surto inflacionário pós-pandêmico sem que suas ações provoquem um choque recessivo sobre as economias. Esse desafio não se cansa de surpreender a todos dados os sucessivos impactos sobre preços de forma geral.

Já elaboramos neste mesmo fórum, a respeito dos efeitos do crescimento abrupto da demanda por bens durante a pandemia e posterior impacto sobre serviços com a retomada da mobilidade. Falamos também das consequências, além das questões humanitárias, do conflito Rússia-Ucrânia sobre principalmente alimentos e energia. Isso sem deixar de mencionar o custo da desglobalização, da transição energética para uma matriz mais limpa e da nova interrupção das cadeias de produção na China em função de sua política de tolerância zero à propagação de novos casos da COVID-19 e consequentes lockdowns.

Desde então, os analistas vêm alterando suas projeções de crescimento e inflação para, sem exceção, todas as regiões do mundo. Considerando os Estados Unidos e Europa como exemplos, em meados do ano passado projetava-se uma inflação para 2022 não superior a 3%. Nos dias atuais, com todas as surpresas que mencionamos acima, não se espera nada abaixo de 7%. Com o crescimento, aconteceu exatamente o contrário. No início do segundo semestre de 2021 os analistas previam, em média, que as economias americana e europeia cresceriam acima de 4%. Hoje, falar em 2,5% ou menos, passou a ser absolutamente corriqueiro.

Em estágios diferentes, bancos centrais das nações desenvolvidas e emergentes já iniciaram o processo de aperto monetário, mas a tarefa não cansa de se mostrar cada vez mais desafiadora. Mas, se por um lado, o cenário macroeconômico continua nebuloso e com baixa visibilidade, já para os preços dos ativos, a estória começa a parecer diferente. O mercado global de renda fixa, considerando predominantemente os mercados mais desenvolvidos, está tendo em 2022 seu pior desempenho dos últimos 30 anos! De forma agregada, esse mercado cai no ano mais de 10%. Sim, renda fixa, internacional, mercados desenvolvidos e em dólares com rentabilidade negativa.

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Nas ações americanas, leia-se S&P500, a queda nominal esse ano se mostra importante, por volta de 15%. Quando olhamos do ponto de vista de valuation, os preços das ações hoje contra suas projeções de lucro para os próximos 12 meses, mostram um múltiplo próximo da média dos últimos 10 anos. Não há que se falar em barganha, mas longe de se afirmar que os preços se encontram ainda em níveis exagerados. Se analisarmos somente o setor de tecnologia, o impacto é ainda maior. O índice NASDAQ, que concentra apenas ações desse segmento, cai quase 25%. Estratificando ainda mais essa amostra, o ETF ARKK, que agrega apenas companhias relacionadas a tecnologias ditas disruptivas, perde cerca de 2/3 do seu valor desde sua máxima atingida em meados do ano passado.

Isso tudo para dizer que, na linguagem do mercado financeiro, nos parece que já se tem muita coisa no preço. Temos observado alguma recuperação nos mercados nas últimas semanas, mas aqueles investidores mais pessimistas alertam para o que se convencionou chamar bear market rally. Em livre tradução, isso seria uma recuperação acentuada dos preços dos ativos no curto prazo em meio a uma queda mais estrutural no longo prazo. E por falar em pessimismo, índices qualitativos que medem o pessimismo dos investidores mostram-se próximos de seus piores níveis dos últimos 30 anos. Estes indicadores costumam ser ótimos previsores de reversão dos mercados.

Faz alguns meses, nossas carteiras já vinham carregando menor risco de forma geral. Nossa estratégia de renda variável tem sido mais defensiva tanto do ponto de vista do tamanho quanto da composição dos ativos. Privilegiamos o carregamento de ativos pós-fixados, indexados à inflação e de prazos (duration) mais curtos. Não vamos queimar a largada, mas o nosso desconforto hoje está mais em identificar oportunidades que, no longo prazo, se mostrarão certamente rentáveis, do que continuar reduzindo risco. São nesses momentos, com cautela sempre, é verdade, que se ganha dinheiro.

Uma ótima sexta-feira e final de semana para você.

Eduardo Castro

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Officer) na Portofino Multi Family Office.

 ”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo Portofino MFO que traz uma visão técnica sobre o que acontece no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.