Chegamos naquela época do ano na qual começamos a revisitar todas as promessas que fizemos no começo do ano, quais delas cumprimos e quais ficaram pelo caminho. Além disso, em meio às viagens e festas de fim de ano, acontecem as famosas retrospectivas. Portanto, antes de fazer promessas para 2023, e pular as sete ondinhas na virada do ano, vamos relembrar o que de mais importante aconteceu e influenciou o mercado financeiro em 2022.
De olho nos preços
Não tem como passar por 2022 sem falar da inflação. A maior vilã dos bancos centrais passou o ano todo aterrorizando investidores, famílias e políticos, seja no Brasil ou no exterior. Por aqui, vimos ao longo do ano vários fatores que mexeram com o IPCA, como, por exemplo, as questões dos combustíveis.
Decorrente da pandemia de Covid-19 e agravada pela guerra na Ucrânia, a alta de preços no Brasil, em 12 meses, chegou a ultrapassar 12% no início do ano. Apesar disso, poucos meses depois observamos algumas deflações mensais na divulgação do indicador. Mesmo com os números negativos em julho, agosto e setembro, o movimento se devia em grande parte ao reajuste no preço dos combustíveis, que tiveram cortes nos tributos estaduais e federais. Em novembro, o IPCA subiu 0,41%, registrando uma inflação acumulada em 12 meses de 5,90%. No ano, a taxa é de 5,13%. Como resposta, o Banco Central seguiu seu aperto monetário, que estava em 9,25% ao ano em janeiro e passou para 13,75% ao ano em agosto, estacionando neste patamar após 12 altas seguidas.
Nos EUA e Europa, o clima é de muita apreensão para tentar controlar a alta dos preços. Enquanto tentam conter a maior inflação em 40 anos, as autoridades monetárias também buscam encontrar o equilíbrio para evitarem uma recessão global de grande magnitude. Em novembro, a inflação nos EUA (CPI) subiu 0,1%, enquanto o acumulado em 12 meses chegou a 7,1%. Na Europa, os dados da Zona do Euro em novembro apresentaram baixa de 0,1% e, nos últimos 12 meses, recuou para 10,1%.
O combate no leste europeu
O ano mal havia começado e já estávamos nos deparando com o principal acontecimento deste ano. No dia 24 de fevereiro, o mundo foi surpreendido com a invasão das tropas russas no território ucraniano. Comandada pelo presidente Vladimir Putin, a ação chocou o planeta. Por muito tempo, as notícias sobre a guerra eram manchetes nos principais jornais digitais e impressos. Dez meses depois, o conflito ainda persiste e sem nenhuma perspectiva de resolução pacífica.
A guerra também foi um grande catalisador para o cenário econômico que encontramos atualmente. O confronto intensificou ainda mais a alta de preços, principalmente em energia e alimentos, e a corrida dos países para controlar esse problema. Dentre alguns fatores, podemos citar a alta no preço do barril de petróleo, por exemplo. A Rússia é uma das maiores produtoras da matéria-prima no mundo e as incertezas fizeram com que o preço do barril ultrapassasse US$ 100 após o início da guerra. É importante relembrar que a política de preços da Petrobras é de paridade internacional, portanto a alta internacional de preços nos afeta diretamente. Além disso, outro exemplo de que a guerra influenciou no processo inflacionário é o setor de alimentos. Ambos os países envolvidos neste conflito são grandes exportadores de trigo, ou seja, as instabilidades nos respectivos territórios e as sanções reduziram a oferta deste produto que é a base de muitos alimentos.
China x Covid-19 x EUA
Em 2022, dois anos depois do boom da pandemia, a Covid-19 continua sendo o principal ponto de atenção na China. A polêmica política de Covid-zero deu muito o que falar neste ano, já que ela é vista como uma das principais responsáveis pela desaceleração da economia chinesa.
Nos últimos meses, foi visto um cenário muito incomum por lá: multidões tomaram as ruas de algumas cidades na China para protestar, principalmente depois de um incêndio em um prédio que deixou vítimas. Segundo informações, pessoas morreram pois estavam trancadas dentro de seus apartamentos como medidas da Covid-zero. O governo chinês anunciou, recentemente, medidas de flexibilização, mas a abrupta mudança foi seguida de uma eclosão no número de casos. Neste sentido, segundo informações da agência de notícias RFI, um terço da população de Pequim pode estar contaminada pelo vírus, ou seja, 22 milhões de pessoas. Contudo, a falta de transparência do governo chinês quanto à real severidade da situação, dificulta qualquer perspectiva.
A crise do mercado imobiliário chinês também desencadeou uma série de manifestações pelo gigante asiático. Tendo como estopim o calote de US$ 300 bi da Evergrande, no ano passado, o setor imobiliário seguiu passando por dificuldades, e neste ano não foi diferente. Desta vez, sem ver um avanço na construção de suas residências, os proprietários decidiram parar de pagar os financiamentos. Nos últimos meses, contudo, o governo vem tentando estimular o setor que representa aproximadamente ⅓ do PIB chinês.
Além disso, a China vem travando a “guerra dos chips” com os EUA, mais um capítulo entre essas nações no cenário econômico. Os chips semicondutores ganharam mais notoriedade durante a pandemia, que com o aumento da procura de aparelhos tecnológicos e a confusão logística dificultaram a produção e manutenção de diversos produtos, como os carros, por exemplo.
Com as restrições impostas, os americanos visam não compartilhar suas tecnologias com os chineses, mesmo que Taiwan e Coreia do Sul comandem a fabricação dos semicondutores, estágios do processo de produção dependem de tecnologia dos Estados Unidos.
O enfrentamento tecnológico não foi a única notícia colocando China e EUA frente a frente. A visita de Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Estados Unidos, a Taiwan elevou as tensões entre os dois países e o receio de que os chineses pudessem iniciar um confronto com os taiwaneses, podendo levar a mais uma guerra. Depois da visita, o gigante país asiático iniciou exercícios militares perto de Taiwan que ocorrem até hoje.
Congelando…
As criptomoedas também foram destaques ao longo do ano e estiveram constantemente entre os principais assuntos do mercado. Infelizmente, no lado negativo. Conhecido como “Inverno Cripto”, o período foi marcado por uma queda muito forte deste modelo de ativo. Para se ter ideia, em janeiro, as criptomoedas somavam US$ 2,2 trilhões em valor de mercado, mas, por meados de abril, o “inverno” foi bem rigoroso, derrubando o valor em US$ 1 trilhão. Como consequência de toda a instabilidade do cenário internacional, os ativos de risco – isso inclui as criptomoedas – sofreram um forte impacto e isso afetou também o Bitcoin, a principal criptomoeda do mercado, que caiu pela metade.
As temperaturas já estavam negativas, mas quando ninguém esperava chegou uma avalanche de neve para dificultar ainda mais. Essa avalanche foi o crash da FTX, e tal acontecimento aumentou a desconfiança com que as pessoas analisam esses ativos. Além desta crise, os colapsos de Terra/Luna, Celsius, da Three Arrow Capital, entre outros, favorecem também para a queda livre dos criptos.
Em entrevista à Exame, André Portilho, Head de Digital Asset no BTG Pactual, falou que “a crise não teve a ver com cripto, mas com o uso da tecnologia pelos intermediários. Esse problema foi uma fraude, um ato criminoso, e isso não tem nada a ver com a tecnologia de cripto e os benefícios que pode trazer para diferentes indústrias”. “Dinheiro do cliente é dinheiro do cliente, não toca nele. Em 1980, isso [usar recursos de clientes] aconteceu muito com corretoras brasileiras, é impressionante como a história se repete”, finalizou Portilho.
O grande duelo do ano
Muito mais do que um Brasil x Argentina ou um Messi x Cristiano Ronaldo (sim, a Copa acabou, mas ainda seguimos lamentando que o Hexa não veio), o maior head-to-head do ano foi Lula x Jair Bolsonaro. E como não poderia ser diferente, o confronto deu o que falar e marcou o ano.
As eleições terminaram com a vitória de Lula, por uma margem mais apertada do que as pesquisas previam, porém, os grandes impactos vieram depois da confirmação dos resultados. Logo após, apoiadores do presidente Bolsonaro saíram às ruas para protestar contra os resultados, inclusive bloqueando rodovias por todo o Brasil.
A vitória de Lula trouxe incertezas para o mercado, com destaque para os nomes que seriam nomeados como os ministros – posteriormente com a confirmação de alguns de muita desconfiança do mercado – e a questão envolvendo a aprovação da PEC da Transição.
O eterno Rei do Futebol
Antes de acabar o ano, uma triste notícia: O Brasil se despede de Edson Arantes do Nascimento, Pelé, o Rei do Futebol. O maior jogador de futebol de todos os tempos. A nossa homenagem ao Rei, ao seu legado e tudo que sempre representará para nós brasileiros.

Por fim, 2022 foi um ano bastante conturbado e de muitos acontecimentos. A retrospectiva listou somente alguns dos principais fatos deste ano que ficará marcado na história. E que venha 2023!
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