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Tempo de leitura – Overview do dia em 14 minutos.

Nesta terça-feira (6), aconteceu o primeiro dia do CEO Conference Brasil 2024, evento promovido pelo BTG Pactual, que contou com a presença de diversas figuras importantes do cenário político e econômico brasileiro, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, entre outros.

Cenário Econômico 2024

O primeiro painel do dia recebeu Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que abordou diversos temas importantes no cenário econômico atual. Em sua tradicional apresentação de slides, ele listou os quatro grandes temas atuais: dinâmica de inflação e crescimento nos Estados Unidos; o que está acontecendo com a China; um mundo cada vez mais dividido; e a dinâmica de mercado em um mundo cada vez mais endividado após a pandemia. Sobre este último, ele disse que o mundo saiu da pandemia muito mais endividado, em algo próximo de 20% do PIB global.

No que diz respeito à inflação global, Campos Neto apresentou dados que mostram que todas as inflações cheias estão caindo, assim como o núcleo, mas lentamente. As taxas de inflação global estão em processo de desaceleração, muito puxada pela queda nos preços de alimentos e energia. Entretanto, o presidente do BC (Banco Central), ponderou que os núcleos nos países desenvolvidos continuam altos, muito em decorrência dos serviços estarem pressionados. “De fato, as inflações de serviços estão rodando a níveis muito altos. Em alguns emergentes, os serviços já estão abaixo de padrões históricos”, explicou.

Em relação ao Brasil, Campos Neto disse que o comportamento da inflação está “mais ou menos dentro do que imaginávamos”. O mercado de trabalho, que permanece aquecido, está sendo acompanhado de perto pelo Banco Central. Sobre a política monetária, ele afirmou que “era difícil definir política monetária sem confirmação da meta fiscal”. Para 2024, o governo confirmou a meta fiscal com déficit primário zero. A definição ainda, segundo ele, levou a uma queda das expectativas de inflação.

Por fim, Campos Neto rapidamente comentou sobre os riscos para a economia global. Ele listou a geopolítica como um fator de risco – durante o painel, ele falou sobre o aumento de custos no transporte marítimo devido ao conflito no Mar Vermelho e o uso de rotas alternativas – e o crédito privado nos Estados Unidos como fonte de risco de crédito.

Agenda Econômica 2024

O painel seguinte recebeu a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que começou falando que tinha a sensação, no começo do governo, que eles não estavam entendendo que acontecia com o orçamento.  

Na projeção para este ano, Haddad disse que 2024 pode “surpreender positivamente”, mas afirmou que o resultado primário depende do Congresso. “Quanto mais maturidade para entender o contexto político, mais fácil fica. Hoje, o que era meta do governo é a meta do país. O resultado fiscal não vem por passe de mágica. Depende de vários fatores, como a apreciação das medidas que o governo manda para o Congresso. O Congresso que dá a palavra final. O resultado primário depende do Congresso Nacional. O nosso papel é ir apresentando para o Congresso as medidas com certa gradualidade”, disse.

O ministro explicou que o otimismo depende da política e afirmou que o Congresso está disposto a ouvir. Importante relembrar que a meta fiscal para 2024 é déficit zero, compromisso visto com certa desconfiança.

Haddad ainda disse que erros acumulados nos últimos 10 anos, que reduziram o nível de arrecadação, estão corrigidos com o esforço do governo, entre eles a desoneração da folha, criada na gestão de Dilma Rousseff.

Top Gestoras do Mercado

Encerrando a parte da manhã, André Jarkurski, Sócio-fundador da JGP, Luís Stuhlberger, Sócio-fundador da Verde Asset, e Rogério Xavier, Sócio-fundador da SPX Capital, debateram sobre política monetária.

Sobre o assunto, Stuhlberger e Xavier concordaram que os bancos centrais estão sendo “muito lerdos em baixar os juros”. Essa postura conservadora, para Stuhlberger, acontece devido a “desmoralização” que as instituições sofreram ao demorar em subir as taxas durante a pandemia. Xavier concordou e explicou que os bancos centrais “estão super conservadores, porque erraram barbaramente na ida e não querem errar na volta”. Ele ainda criticou Jerome Powell, presidente do Fed, sobre a comunicação e entrevistas estarem confusas.

Além disso, o fundador da SPX, apesar de elogiar o trabalho conduzido por Roberto Campos Neto no comando do Banco Central no último ano, criticou os juros altos, questionando que não há justificativa para as taxas em patamares atuais. Ainda sobre a política monetária, ele afirmou que o momento determinante para as economias emergentes evoluírem será quando os desenvolvidos começarem a cortar juros.

Ao arrematar sua visão do Brasil, ele disse que o país vai ser “sardinha e vai andar com o resto do mundo. Se o mundo for bem, o Brasil vai bem”. Jarkurski também fez coro às falas de juros extremamente altos e analisou a produtividade e o crescimento populacional que o preocupam.

As eleições americanas também foram pauta. Para Jarkurski, esse é o tema mais importante do ano e ainda destacou que a dívida americana é “uma bomba atômica com pavio curto, que pode explodir em seis meses ou em anos”. Rogério Xavier mostrou uma visão de que a eleição de Trump pode ser boa do ponto de vista das corporações americanas, já que significaria menos impostos.

China e geopolítica também foram temas. No que diz respeito ao primeiro, Xavier apontou que o modelo econômico passa por um esgotamento. “A China insiste em apostar no lado da oferta e da indústria forte. Estão exportando um excedente para o mundo inteiro, isso derruba o preço dos bens. Para nós (Ocidente) é o paraíso, mas para a China está se endividando cada vez mais e sem retorno”. Ele acredita que o país terá um colapso econômico por conta de uma crise bancária profunda e retroceder, podendo desencadear no confronto político com Taiwan. O fundador da Verde Asset acrescentou que não está otimista e nem pessimista com a China.

Os participantes ainda analisaram que uma possível eleição de Donald Trump em novembro se traduziria em cautela para os dois países devido à possibilidade dele aumentar as tarifas de importação do país asiático.

Por fim, na geopolítica, Stuhlberger vê que os Estados Unidos estão longe de ser ameaçados pela China no campo econômico. Entretanto, André Jarkurski acredita que em 5 ou 10 anos vê a China militarmente competitiva com os EUA e capaz de invadir Taiwan.

Economia Mundial e Geopolítica

“Os juros têm de cair, seja em março ou maio, o Fed vai ter de começar a reduzir os juros logo, senão vamos ter uma recessão real”. Foi isso que Bill Ackman, fundador da Pershing Square, disse sobre o cenário da economia americana. Conforme explicou durante o painel, a percepção do gestor americano é que a atividade e o mercado de trabalho estão enfraquecendo, “com um número significativo de empresas, principalmente de tecnologia, todos os dias demitindo”.

Ele pontuou que o PCE, índice de inflação preferido do Federal Reserve, já voltou para perto de 2%, a meta perseguida pelo banco central americano. “A taxa de juros real nos EUA hoje está bastante alta em termos históricos e, apesar disso, a economia ainda parece forte. Então, isso é um pouco um enigma, mas penso que existem alguns fatores que estão se ajustando após a pandemia e isso traz riscos para a economia”.

Em relação à China, ele comentou que tem sido bastante pessimista nos últimos anos e enxerga um enfraquecimento gradual. Destacou que o país é um ambiente ruim para empreendedores bem-sucedidos, com os locais tentando levar seus familiares para fora, e que a estrutura de custo não é mais tão competitiva.

Ele ainda falou sobre geopolítica, comentando sobre os custos de fretes subindo com os problemas nas rotas de navegação, as tensões entre EUA e Irã e afirmou que o maior risco do mundo agora são as incertezas geopolíticas e mercadológicas. “Estamos próximos de uma guerra contra o Irã”, afirmou.

Futuro do Varejo: Transformações e Desafios

Cristina Betts, CEO do Grupo Iguatemi, Luiza Helena Trajano, Presidente do Conselho da Magalu, e Rafael Sales, CEO da Allos, debateram sobre as principais transformações do varejo nos últimos anos e como enxergam os desafios para os próximos anos.

Luiza Helena começou sua fala destacando a importância da digitalização e a rápida adaptação do mercado, muito em virtude dos efeitos da pandemia. Segundo ela, o digital levou as pessoas a conhecerem mais o produto e terem mais vontade de comprar. “O digital é uma cultura que veio para ficar. A pandemia “forçou” essa digitalização”, explicou.

A CEO do Grupo Iguatemi, por outro lado, relembrou quando no início da pandemia diziam que os shoppings iriam acabar. Ela explicou que os shoppings têm diversas outras funções e proporcionam toda uma experiência para os clientes. “É muito prático comprar no online, mas a experiência no digital não é completa como no presencial”, disse. 

Ela ainda completou afirmando que o Brasil tem a cultura de servir bem e isso reflete para dentro das lojas. “Todos querem colocar mais produtos na loja e fazer eventos de relacionamento de marketing. O presencial não vai morrer e acho que todo mundo vai focar nessa parte da experiência e tornar os clientes leais”.

Rafael Sales foi em linha com o que disse Cristina, explorando muito o lado da experiência do consumidor, da experiência vivida nos ambientes físicos.

Concessões: Saneamento

O painel recebeu Karla Bertocco, Presidente do Conselho da Sabesp, Radamés Casseb, CEO da Aegea, e Roberto Barbuti, CEO da Iguá Saneamento. 

Os três convidados debateram ao longo do painel sobre diversos temas relacionados ao marco legal do saneamento. Casseb disse que quem está fazendo mais diferença no setor é o capital, a crença do investidor. Ele ainda explicou que do ponto de vista do crescimento, a Aegea tem como modus operandi estudar todos os projetos, em uma dinâmica de aprendizado.

Argentina: o que esperar?

No último painel do primeiro dia, Luis Caputo, ministro da Economia da Argentina, falou sobre o difícil momento do país vizinho e as perspectivas para frente. 

Ele começou elogiando o presidente Javier Milei, elogiando que ele chegou à presidência dizendo a verdade e está fazendo a lição de casa. “Muitos políticos o subestimaram porque não achavam que alguém pudesse chegar ao poder falando em ajustar os gastos públicos. Isso conferiu credibilidade a ele no mundo todo”.

No contexto da aprovação do texto-base do pacote de reformas econômicas e políticas de Milei no legislativo, mas desidratada em diversas medidas, Caputo afirmou que “sabemos que o que pretendemos fazer vai funcionar, porém é claro que precisamos do apoio do congresso. Não podemos contar com os oposicionistas radicais, porque querem que as pessoas continuem na pobreza para poderem continuar mentindo. Eles formam 35 a 40%. Já a oposição racional está adotando uma posição pró-pais e não dos próprios interesses”. Pouco antes do início do painel, a Câmara dos Deputados retomou a votação dos artigos individuais do projeto.

Por fim, o ministro falou que olha para o Brasil como um superparceiro e pediu que os investidores “olhem com carinho as oportunidades no país. Vocês vão nos ajudar a sair dessa situação”.

O CEO Conference Brasil 2024 retorna nesta quarta-feira (7) com outros nomes importantes.

Este conteúdo é produzido pela PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE e fomenta o diálogo sobre a política e o empresariado brasileiro. A nossa opinião é neutra e não é partidária.