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Governos à esquerda do espectro político, são, na maioria das vezes, mais expansionistas fiscalmente quando comparados àqueles mais à direita. Esta constatação pode ser evidenciada comparando as políticas econômicas de governos republicanos e democratas nos Estados Unidos.

Não entraremos aqui no falacioso debate ideológico que supõe uma dicotomia entre responsabilidade social e responsabilidade fiscal. Na carta aberta escrita há duas semanas pelos economistas Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan, direcionada ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, eles afirmam que “a responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou quanto antes.”

O fato é que, sejam indivíduos ou famílias, empresas ou governos, aumentos de despesas mandatoriamente precisam ser financiados por corte de outros gastos, aumentos de receitas ou ambos. Nos governos em específico, o ajuste dessa equação se dá habitualmente por mais impostos, por corte de gastos discricionários e subsídios, ou pelo aumento da dívida pública. Esta última alternativa, se realizada sem concomitante aumento de credibilidade e confiança por parte dos agentes econômicos, se dá geralmente acompanhada por juros mais altos e maior inflação.

Em seus últimos discursos, o caminho adotado pelo presidente eleito tem sido na direção de satanizar o chamado “mercado”. Isso, como se os indivíduos, empresas e investidores em geral que, na prática, financiam o endividamento público, fossem os culpados em última instância pela piora da percepção de risco e impacto negativo nos mercados de ações, juros e câmbio.

Em uma simples analogia, seria equivalente a um indivíduo que, em um determinado mês, perdesse o controle dos seus gastos e culpasse o banco por entrar no cheque especial. Gasta-se mais do que recebe, e com a alegação da legitimidade e urgência das despesas inesperadas, briga com o banco que, em última instância, permitiu que aquele aumento de gastos fosse possível.

O mercado é pragmático. Independentemente de preferências políticas ou ideológicas, ajusta os preços dos ativos conforme sua avaliação prospectiva dos riscos e retornos potenciais. Diferentemente do inferido pelo presidente eleito, não existe uma perversidade implícita nisso. Na carta citada acima, o trio de economistas escreveram que “a alta do dólar e a queda da Bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados. É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a Bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo. Muita gente séria e trabalhadora, presidente”.

Ao longo dos próximos dias teremos a definição dos termos da PEC da Transição que, em última instância, poderá aumentar as despesas do governo em até R$ 200 bilhões por ano, ao longo de todo o mandato do próximo presidente. Dada a composição do Congresso e da atuação da bancada do Centrão, acreditamos que tanto o montante quanto o prazo deverão ser sensivelmente revistos para baixo. Adicionalmente, a definição dos novos ministros da área econômica, Fazenda e Planejamento, ajudarão a definir o preço justo dos ativos brasileiros ao longo das próximas semanas. A conferir.

Um orçamento deficitário automaticamente impõe a necessidade de se buscar fontes de recursos para financiá-lo. Se a intenção do governo é reduzir sua dependência do mercado e o custo do endividamento público, certamente o caminho não parece ser aquele que o próximo governo sinaliza querer trilhar. E é exatamente isso que expressa a depreciação dos ativos brasileiros em um cenário de significativa melhora do ambiente externo.

Às vezes, parece ser mais fácil querer matar o mensageiro. O problema é que neste caso o mensageiro e financiador são a mesma pessoa.

Eduardo Castro é Chief Investment Officer na Portofino Multi Family Office e sempre escreve nesta carta de gestão, “Causa e Efeito”, a sua visão estratégica sobre os principais fatos dos mercados e os impactos em nossa estratégia.

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