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A inflação vem sendo o maior pesadelo dos investidores em 2022. Apesar dos países já estarem se movimentando – mesmo com certa letargia -, o processo ainda tem muito a desenrolar e as consequências não estão totalmente claras. Enquanto as taxas de juros seguem subindo nas principais economias do mundo, o receio de uma recessão global a partir de 2023 acende o alerta no radar dos bancos centrais.

A inflação é caracterizada pelos sucessivos e generalizados aumentos de preços de bens e serviços em determinado país ou região por um período de tempo. Como consequência, o processo inflacionário eleva o custo de vida das famílias e reduz o poder de compra delas, fazendo com que a mesma quantidade de dinheiro compre cada vez menos serviços ou bens conforme vai deteriorando seu valor. Desequilíbrio entre oferta e demanda, maior emissão de papel moeda e aumento dos custos de produção são fatores que levam à inflação.

Atualmente, vemos países com taxas de inflação elevadíssimas, caso da Argentina, onde a alta anual é de 83%, a maior em três décadas. Embora esse valor seja bastante alto para os padrões atuais, basta voltarmos no tempo para ver que alguns países já tiveram números inimagináveis.

Flashback hiperinflacionário

É possível acreditar que já houve um país em que a porcentagem da hiperinflação atingiu incríveis 41,9 quatrilhões em um mês? Ou seja, 41.900.000.000.000.000%. O fato aconteceu na Hungria, em julho de 1946, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial que devastou a capital Budapeste. O país da Europa Central carrega a alcunha de detentor do pior caso de hiperinflação já registrado. A não ser pelo surgimento de algum “cisne negro”, os húngaros levarão esse título por muito mais tempo.

Não tão distante dos dias de hoje, em novembro de 2008, a taxa mensal de inflação do Zimbábue chegou a 79.000.000.000% (79 bilhões). O problema começou ainda na década de 90, quando o governo realizou uma reforma agrária que prejudicou a produção agrícola e piorou com os gastos referentes à Guerra do Congo, em 1998, e as seguidas sanções impostas em 2002 pelos Estados Unidos e União Europeia.

Completando esse pódio um tanto quanto indesejado, a Iugoslávia, em meio a um cenário de conflitos políticos e étnicos e crise econômica, se viu em uma “guerra interna” que acabou dividindo o país nas nações que hoje são Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia. Os gastos decorrentes dos conflitos, impressão de dinheiro e as sanções das Nações Unidas foram alguns dos catalisadores que levaram a região a registrar uma hiperinflação de 313 milhões por cento em janeiro de 1994.

Inflação em terras americanas

O homem que “quebrou” o Brasil – expressão que ficará mais clara adiante -, Paul Volcker, segundo seu obituário publicado no New York Times, foi o “Presidente do Federal Reserve que lançou uma guerra contra a inflação”. Remetemos a esse período, pois foi uma crise mundial, que teve severos desdobramentos para o Brasil e foi a última grande inflação vivenciada pelos Estados Unidos até 2022.

Economista indicado pelo presidente norte-americano Jimmy Carter para assumir o Banco Central dos Estados Unidos, Volcker foi incumbido com a árdua missão de controlar a inflação que atingiu 14,8%, em março de 1980. A crise inflacionária da época foi desencadeada após o segundo choque do petróleo, em 1979, quando a Revolução Iraniana fez o preço do barril sair de US$ 15 para US$ 60 em questão de meses (considerando valores atuais). O impacto foi avassalador, já que o Irã era um dos principais produtores de petróleo do mundo. 

O remédio para controlar a inflação foi bem amargo. Volcker foi contundente e bem duro em sua política monetária ao elevar a taxa de juros para além dos 20% ao ano – dado causador de dores de cabeça para os americanos, em que o mercado já agoniza imaginando que os juros americanos podem chegar próximos a 5%, ou mais. Essa dinâmica respingou para outros países, como no Brasil e América Latina, dando início a chamada “Década Perdida”, na qual as consequências foram desastrosas.

Década Perdida

As ações de Paul Volcker para conter o processo inflacionário e colocar a economia americana nos trilhos tiveram fortes impactos no Brasil e em toda a América Latina, tais quais levaram a região ao período que ficou marcado como “Década Perdida”. Resumidamente, tudo começou com o primeiro choque do petróleo, em 1973, mas foi no segundo choque do petróleo que os países desenvolvidos, a exemplo dos EUA, começaram a aumentar as taxas de juros na tentativa de conter a inflação.

Em contrapartida, nos anos anteriores, o Brasil passou pelo que ficou conhecido como “Milagre Econômico”, o qual foi caracterizado pela abundância de crédito externo para acelerar projetos de infraestrutura e investimento em indústrias. Em outras palavras, o Brasil se endividou para financiar seu crescimento.

O resultado não tinha como ser outro. Os países latino-americanos foram fortemente atingidos com o aumento da taxa de juros nos EUA, já que os empréstimos foram contratados em dólar. A bola de neve estava formada. O nosso país viu sua dívida ir aumentando cada vez mais e as soluções para contornar essa situação já não eram muitas. Em 1982, o México declarou moratória, dando oficialmente início à “Década Perdida”. 5 anos depois, em 1987, foi a vez do Brasil declarar que não iria conseguir pagar sua dívida. A dívida externa, de US$ 3 bilhões em 1964, chegaria aos US$ 100 bilhões em 1987.  Durante esse período, o país viveu anos de baixo crescimento e hiperinflação, que resistiu a diversos governos e planos econômicos.

O fato de Paul Volcker ter “quebrado” o Brasil não passa de uma brincadeira. Contudo, sua rígida política nos EUA foi o estopim para a eclosão da crise da dívida externa latino-americana.

Uma velha conhecida bate à porta 

Aproximadamente 40 anos depois o mundo volta toda a sua atenção às altas taxas de inflação. Claro que ainda muito longe daquelas que citamos no início do texto, mas depois de certa leniência em relação ao quão duradouro seria a inflação de hoje, os países estão comprometidos em domar o dragão.

Em terras tupiniquins, os últimos três meses foram de deflação, graças aos cortes de impostos do governo sobre combustíveis, energia e telecomunicações. No acumulado dos últimos 12 meses, a taxa é de 7,17%, enquanto em 2022 é de 4,1%. Apesar dos números colocarem o Brasil em uma posição de destaque na comparação com outras economias mais estruturadas, o entendimento é de que os juros do Banco Central ainda não fizeram todo o efeito que a autarquia espera e que a deflação no período foi puxada em grande parte pela intervenção do governo em reduzir impostos. Ou seja, muito da queda dos preços está ligada aos movimentos do governo – até certo ponto impulsionado pelas eleições -, do que propriamente aos ajustes realizados pelo Banco Central.

Enquanto nos EUA e na Europa as autoridades acreditavam que a alta dos preços era passageira e não havia muitos motivos para se preocupar, por aqui o Banco Central tinha outra visão e anteviu a necessidade de iniciar o movimento de alta nos juros para combater a inflação. É como diz aquele ditado: gato escaldado tem medo de água fria. Depois de ter reduzido a Selic para 2% ao ano – menor nível já registrado na série histórica desde 1986 -, em agosto de 2020, com o objetivo de estimular a produção e o consumo em meio à pandemia de Covid-19, o BC voltou a elevar a taxa básica de juros em março de 2021.

Hoje, o Brasil, ao que tudo indica, já encerrou seu ciclo de aumento nas taxas de juros e deve mantê-la no patamar de 13,75% ao ano, mas sem perspectivas de começar o processo de redução, se mantendo vigilante ao comportamento de desinflação e dos agentes internacionais. Os americanos e os europeus, por outro lado, seguem com os fortes movimentos de alta de juros – as quais ainda não está claro até onde irão -, à medida que os dados inflacionários ainda mostram pouca reação e tentam evitar uma recessão profunda.

Infográfico: Marketing Portofino MFO

Agora, mesmo que em proporções totalmente diferentes daquelas que discorremos ao longo do texto, os bancos centrais travam uma longa e desgastante batalha contra um adversário que o Brasil tem bastante experiência. Em períodos como esse, administrar os investimentos se torna ainda mais desafiador e angustiante para os investidores. A presença de um gestor profissional e experiente é muito importante para auxiliar nas tomadas de decisões e entender como os movimentos do mercado afetarão o patrimônio de cada um.

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