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Causa e Efeito | 29.10.2021

Causa e Efeito | 29.10.2021

(Tempo de Leitura: 5 min)

Família Portofino,

É difícil esconder a frustração com a piora recente dos mercados brasileiros. Em um momento que observamos o mundo se recuperando do impacto da pandemia na economia mundial, o Brasil destoa e não se permite surfar essa onda, única e exclusivamente devido às escolhas equivocadas da nossa classe política. A discussão entre os analistas já flerta com comparações aos piores momentos do governo Dilma Rousseff.

Avaliamos como sendo precipitadas algumas comparações, entretanto parecem inequívocas algumas semelhanças. Avançamos em reformas estruturantes. Há de se reconhecer que a Reforma da Previdência aprovada neste governo foi ainda mais agressiva que a anteriormente tentada pelo governo Temer. Projeta-se uma economia de mais de R$ trilhão em 10 anos. Aquém do que se pretendia, é verdade, há avanços nos processos de privatização da Eletrobras e a dos Correios, ainda em um estágio inicial.

Temos também um cenário externo mais benigno favorecendo nossas contas externas com aumento da nossa exportação de commodities tanto no “quantum” como no preço. A alavancagem do setor público e privado é menor e o balanço das empresas e das famílias encontram-se mais saudáveis. Semelhanças? A potencial desancoragem inflacionária e fiscal.

Temos constantemente questionado o quanto desse cenário ainda incerto já foi incorporado nos preços dos ativos. Particularmente na Bolsa, permanecemos mais cautelosos dado que continua complicado prever o impacto dos juros mais altos e da piora das condições financeiras de forma geral sobre o crescimento econômico e sobre o resultado das empresas. Mantemos nosso posicionamento mais cauteloso com uma carteira de renda variável bem mais defensiva quando comparada ao início do ano. Relembrando que aumentamos nossa exposição em bolsas internacionais, Estados Unidos e China principalmente, zeramos posicionamentos direcionais em índices de bolsas locais, Ibovespa e “Small Caps”, e privilegiamos a alocação em gestores de fundos “long biased”. Esses gestores mantêm estruturalmente maior exposição em caixa além de trabalharem com parte dos seus portfólios vendida.

Na renda fixa pós-fixada, mantemos nossa saga em procurar bons créditos privados indexados em CDI + taxa, mas reconhecemos a dificuldade de escalar essa estratégia sem termos que renunciar a retorno ou elevar imprudentemente o risco de crédito. A própria disfuncionalidade do mercado de juros observada recentemente e o receio quanto à materialização de um cenário de estagflação pouco contribuem para que boas empresas acessem o mercado de capitais nesse momento. Como alternativa, temos aumentado nossas alocações em fundos de crédito estruturado que, a despeito do cenário, mantêm suas carteiras com posições bem equilibradas do ponto de vista do risco e retorno. Isso também vale para os ativos indexados em IPCA + taxa.

A novidade está na nossa decisão de iniciar gradativamente um aumento do risco das nossas carteiras em ativos prefixados. Quando analisamos nossa curva futura de taxa de juros já podemos verificar a precificação de aumentos da Selic em adicionais 6%. Confirmada a projeção do mercado, o ciclo de juros só seria interrompido pelo Banco Central por volta de 13,75%. Parece exagerado visto que comungamos com a visão de parte dos analistas que julgam ser suficiente a elevação da Selic para 12% de modo a estabilizar as expectativas da inflação. Esse prêmio adicional de 1,75% aguenta certo desaforo e nos deixa relativamente mais otimistas com a posição. Podemos verificar também poucos fundos multimercados posicionados acreditando na continuidade da abertura da curva corroborado pelo anúncio do Tesouro Nacional de que, em coordenação com o Banco Central, atuará na compra de títulos do mercado caso avalie ser necessário. A assimetria de preços nos parece favorável.

Implementaremos essa estratégia de forma paulatina até porque ainda existem incertezas a serem monitoradas. A votação da PEC dos Precatórios foi mais uma vez adiada para a quarta-feira da próxima semana e sua aprovação se faz necessária para garantir a limitação dos gastos com verbas adicionais para emendas dos parlamentares e com o novo Bolsa Família limitados a cerca de R$ 100 bilhões. A desistência desse caminho poderá suscitar volatilidade adicional nos mercados o que justifica nossa prudência na implementação da estratégia. Do ponto de vista dos ativos, daremos preferência aos ativos isentos de imposto de renda emitidos pelos grandes bancos de modo a adicionar uma proteção extra, contra eventuais pioras do mercado.

Como sempre diz um grande amigo do mercado — “Esse é o nosso Brasil, às vezes enverga, mas não quebra!”. Mesmo com todas as incertezas geradas pela decisão de se flertar com a imprudência nos gastos públicos e macular o guardião do arcabouço fiscal, o teto de gastos, não aventamos a possibilidade de mudança estrutural do regime ou de um estado de dominância fiscal.

Aproveitem o feriado com suas famílias. Descansem, porque semana que vem tem mais!

Edu Castro
Chief Investment Office
Portofino Multi Family Office

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Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.

”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo para clientes Portofino que traz uma visão técnica sobre o que aconteceu no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.

Ação e Reação | 21.10.2021

Ação e Reação | 21.10.2021

Ação e Reação

Tempo de Leitura: 4 minutos.

Família Portofino,

No Brasil, não se morre de tédio… A grande verdade é que ninguém imaginava que o governo, na intenção de equacionar o orçamento para se fazer caber o pagamento dos precatórios e o aumento do novo Bolsa Família, faria a opção por não respeitar a restrição imposta pelo teto dos gastos. Erramos todos.

O agravante é que além de não se saber exatamente o montante total, o mercado se viu surpreendido pelo anúncio de novas benesses. Adicional de R$ 30 bi, R$ 50 ou R$ 80 bi, não se sabe ao certo. O que se sabe é que a percepção de austeridade fiscal assegurada pelo instrumento do teto foi maculada apesar toda a ginástica retórica por parte do governo em negar o fato.

A sensação é de porteira aberta. Agora, R$ 400 reais por famílias, ventilou-se R$ 500. R$ 400 para 750.000 caminhoneiros autônomos. O que poderia vir, além disso é a pergunta que o mercado se faz. E os preços refletem as surpresas negativas e incertezas.

No meio do calor do fato, não devemos optar pela decisão mais fácil e potencialmente errada de sair vendendo tudo e reduzindo riscos. Isso não quer dizer que não devamos reavaliar o cenário e ajustar nossas expectativas para um novo ambiente onde, na melhor das hipóteses, a probabilidade de uma desancoragem fiscal aumentou.

É uma análise complexa, o que pede serenidade, mais técnica e menos estômago. Nos juros, o dia foi de zeragem compulsória (stop loss) por parte de alguns fundos. Por outro lado, tivemos sinais de estrangeiros voltando a comprar títulos do Tesouro prefixados aproveitando os níveis estressados das taxas, o que isoladamente é uma boa notícia. Perdemos todos a referência para até onde o Banco Central deverá levar a SELIC, confirmada a perda da âncora fiscal, mas tudo parece precificado para o pior.

Na linha das falsas obviedades, vender ações em situações de completo descontrole de gastos públicos, no longo prazo, nem sempre é a melhor opção. Importante dizer que ainda estamos muito distantes disso, a foto do nosso fiscal ainda é muito boa. Somente como exercício, em crises fiscais severas, ações no portfólio passam a ter características de ativo real com proteção adicional à inflação. Em outras palavras, melhor ser sócio de empresas líderes em seus setores de atuação, que você confia no management, com negócios diversificados geograficamente e descorrelacionados da economia local do que eventualmente emprestar dinheiro ao Tesouro. Reforço mais uma vez, ainda estamos muito distantes de um cenário de risco de solvência da dívida pública, mas não vamos negligenciar o fato de que, na margem, esse risco aumentou.

Lembramos também que já havíamos reduzido o risco da exposição em renda variável das nossas carteiras aumentando exposição no exterior e concentrando a parte local em estratégia “long biased”, portanto mais defensivas. Isso também não quer dizer que, com as novidades do cenário, não consideremos, por exemplo, intensificar nossa exposição no S&P500. Os resultados das empresas americanas, a despeito de todas as recentes preocupações com o aumento da inflação, continuam a surpreender positivamente.

Todos os mercados domésticos — juros, câmbio e bolsa — fecharam melhores do que seus piores momentos no dia. No linguajar do mercado, muitas posições trocaram de mão, o que minimiza a potencial continuidade de vendas forçadas. Falamos com vários dos nossos gestores e muitos já se encontravam com menor exposição a Brasil de forma geral, outros potencialmente se beneficiarão da recente volatilidade.

Estamos debruçados sobre as novas informações, reavaliando riscos, mas também oportunidades. Continuaremos dia e noite cumprindo nosso dever fiduciário de zelar pelo patrimônio das nossas famílias, sempre fiéis às nossas convicções.

Segue o jogo. Amanhã tem mais.

Edu Castro
Chief Investment Office
Portofino Multi Family Office

Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.
”Ação e Reação” é um conteúdo pontual e exclusivo para clientes Portofino que traz uma visão técnica sobre os momentos mais sensíveis do mercado, no dia de hoje.

Causa e Efeito 08.10.2021

Causa e Efeito 08.10.2021

Família Portofino,

Mais uma semana de extrema volatilidade nos mercados! No Brasil, qual a razão de um fechamento tão forte do Ibovespa e queda nas taxas prefixadas no pregão de hoje? Nos Estados Unidos, o que explica a recuperação do SP500 das mínimas da semana?

Temos insistido na tese de que os mercados irão, no fim das contas, tentar precificar se um aumento significativo da inflação, independente se por restrição de oferta, aumento da demanda ou os dois simultaneamente, forçará os bancos centrais a anteciparem a retirada de estímulos e consequentemente antecipar a elevação dos juros. Ao fim e ao cabo, quão ameaçado estará a continuidade do crescimento das economias passado o pico da pandemia.

Localmente, depois de uma sequência de dados bastante ruins, o IPCA de setembro, divulgado hoje, surpreendeu positivamente. A mediana das estimativas apontava para 1,25% e o número divulgado registrou “apenas” 1,16%.
O índice de difusão, número que mostra o percentual dos bens e serviços que registraram alta no mês, caiu de 71,9% para 65%. É muito provável que a inflação de 12 meses em 10,25% tenha atingido o seu pico. Do lado da atividade, os dados de vendas no varejo, também divulgados durante a semana, vieram bem abaixo do esperado pelo mercado, queda de 3,1% contra uma expectativa de alta de 0,7%.

Simplificando, menos inflação e menor crescimento implicariam em um ciclo mais curto de aumento de juros. Bom para posições prefixadas e para a renda variável.

Lá fora, exceção feita ao petróleo, pudemos observar algum arrefecimento nos preços das commodities de energia, principalmente o gás natural. Nos Estados Unidos, a criação de empregos formais mais uma vez surpreendeu
negativamente.
O banco central americano tem o duplo mandato de, em simultâneo, controlar a inflação e reduzir o desemprego. Dados positivos, na margem, relativos aos preços de energia e piores quanto à criação de emprego,
no mínimo, reforçam a tese de retirada gradual de estímulos e pouca urgência para o aumento dos juros. Mais crescimento com inflação controlada, mesmo que em níveis historicamente mais altos, é bom para ativos de risco.

A sexta-feira termina mais positiva, sem dúvida. Será essa dinâmica de maior ou menor inflação, juros e crescimento que continuará ditando a volatilidade dos mercados, sempre dependente dos dados a serem divulgados ao longo do tempo e da continuidade ou não da recente pressão nos preços das commodities.

Semana que vem tem mais!
Edu Castro
Portofino Multi Family Office

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Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office e semanalmente escreve a carta
”Causa e Efeito”. Um conteúdo descomplicado, com a sua visão técnica e reflexiva sobre o que aconteceu no mundo e os reflexos nos mercados financeiros globais. Aproveite a leitura!

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Causa e Efeito 01.10.2021

Família Portofino,

No cenário externo, começamos o 2º semestre monitorando a evolução do processo inflacionário global explicado principalmente pela elevação dos preços de energia e gargalos nas cadeias de produção. Estes choques de oferta fizeram com que parte do mercado passasse a considerar a aceleração da retirada dos estímulos e a antecipação do aumento de juros por parte dos bancos centrais dos países desenvolvidos.

A guerra de retóricas entre aqueles que acreditam em um processo inflacionário temporário e localizado contra aqueles que esperam algo mais persistente e disseminado irá continuar pelos próximos meses. Nossa opinião permanece a mesma. Continuamos a considerar como provável a sustentabilidade do crescimento global, a despeito de ações mais restritivas por parte dos bancos centrais, na margem.

Localmente, a trégua política entre a Presidência da República e o STF, permitiu que o Congresso e o Ministério da Economia voltassem a discutir soluções que acomodem na regra do teto de gastos o pagamento dos precatórios e a criação de um novo programa de transferência de renda, o Auxílio Brasil. A um ano das eleições, se faz necessário acompanhar com cuidado o desenrolar dessas negociações, com particular atenção a possível inclusão de “jabutis” com impacto negativo do lado fiscal.

Do ponto de vista dos nossos portfólios, decidimos, no nosso último Comitê de Investimentos, substituir parte do nosso risco direcional em bolsa brasileira por uma combinação de maior exposição em S&P500 e posições prefixadas no Brasil.

A troca de parte do risco local de bolsa local por S&P500 se deu pelas seguintes razões:

i. As projeções de crescimento da economia americana para 2022 permanecem por volta de 5% enquanto para o Brasil, as projeções têm sido constantemente revisadas para baixo. Crescimento por volta de 0,5% já não é visto como sendo tão improvável.

ii. Trabalhamos com a continuidade do crescimento dos lucros das companhias americanas. Para o Brasil, a desaceleração do crescimento fará com que seja ainda mais importante a escolha de empresas e setores que consigam navegar bem nesse ambiente menos favorável. Desta forma, continuaremos concentrando nosso risco de bolsa local na estratégia de seleção de gestores independentes, agora não mais combinada com posições passivas direcionais em índice Ibovespa e Small Caps.

iii. A extensão do processo de aumento de juros no Brasil para níveis próximos a 9%, fará a gestão de renda variável no Brasil ainda mais desafiadora.

Trabalhamos com o início do aumento de juros nos Estados Unidos somente para o final de 2022, na pior das hipóteses.

Já o processo de substituição de parte do risco de renda variável por ativos prefixados, se dará de forma gradativa com o intuito de preparar as carteiras para um ambiente local mais incerto e volátil em função dos desafios que se avizinham na condução da política monetária e na intensificação do processo eleitoral ao longo dos próximos meses. Apesar da óbvia correlação entre a renda fixa prefixada e o

Ibovespa, a relação risco x retorno da renda fixa nos parece mais favorável. A nossa curva de juros já projeta acima de 10% para o final do próximo ano.

Estamos à disposição para dividir em detalhes com vocês todo o racional da nossa decisão e a estratégia de implementação.

Aproveitem o fim de semana!

Edu Castro

Chief Investment Office

Portofino Multi Family Office

www.pmfo.com.br/on

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Eduardo Castro é Chief Investment Office na Portofino Multi Family Office.
Em sua carta “Causa e Efeito”, uma publicação exclusiva, traz os principais fatos da semana e os reflexos nos mercados financeiros globais.

Causa e Efeito 24.09.2021

Família Portofino,

Ufa! Finalmente uma semana que termina um pouco mais positiva para os mercados! 

Do lado doméstico, o poder Executivo conseguiu articular com o Congresso o encaminhamento de uma solução, mesmo que imperfeita, para a questão dos precatórios. Com o estresse político mantido em banho-maria, Guedes, Lira e Pacheco conseguiram se acertar e retomaram as negociações do lado político, negociação esta que incluiu também a continuidade das reformas estruturantes. A intenção é que a reforma tributária, a  PEC dos precatórios e a reforma do IR sejam resolvidas até o fim do ano. O risco agora passa a ser a tramitação. A conferir.

Na semana passada, mencionamos a importância de se acompanhar a divulgação do comunicado da reunião do COPOM visto que a decisão de elevação de 1% já havia sido previamente telegrafada pelo Roberto Campos no evento BTG Macro Day. A grande verdade é que os economistas se encontram meio perdidos quanto à condução da política monetária por isso tivemos interpretações diametralmente opostas do comunicado.  Lembrando que pelo comunicado, nosso banco central já se comprometeu com um aumento adicional de 1% na próxima reunião, algumas casas interpretaram o texto como mais brando, passando a trabalhar com a hipótese de redução do ritmo a partir da reunião de dezembro. Outros, porém, reafirmaram suas convicções quanto ao ciclo mais longo. Cresceu, portanto, a relevância da leitura atenta da ata a ser divulgada na próxima quarta.

Esta discussão é fundamental para definirmos nossa estratégia de alocação considerando que operações de carregamento de renda fixa ganham atratividade em um cenário de Selic por volta de 9%. Outra discussão derivada da alocação em papéis da renda fixa, é a escolha do indexador mais apropriado. É bom termos em perspectiva que para esse nível de taxas de juros, considerando uma inflação próxima a 4% a.a., teríamos que buscar papéis com cupom acima de 5% a.a. para superar o CDI, pelo menos enquanto as taxas se mantiverem nesses níveis. Para as nossas alocações futuras, já estamos de olho na diversificação com papéis de crédito privado emitidos em CDI+. E para apimentar ainda mais essa discussão, o IPCA-15 veio acima do esperado pelo mercado, o que certamente suscitará revisões para o IPCA fechado de 2021.

Lá fora, o banco central americano, o FED, confirmou sua intenção de dar início à retirada de estímulos para o final do ano, mas nós, particularmente, interpretamos a mensagem como sendo mais preocupada.  Terminado o processo de compra de ativos, o passo imediatamente posterior seria o início da alta de juros. Verificando as sinalizações dadas pelos membros do comitê de política monetária, o FOMC, diferentemente da informação anterior que projetava o início do ciclo de aumento dos juros somente em 2023, alguns dos seus diretores já trabalham com a possibilidade de se antecipar o início do processo para 2022. Apesar de ter condicionado o início da normalização às condições gerais da economia ao longo dos próximos meses, já temos um sinal de que o pêndulo se moveu mais para o lado da preocupação com inflação antes claramente mais do lado das dúvidas quanto à consistência da retomada da atividade pós-Covid.

Um banco central mais preocupado com a inflação sinalizando um início mais próximo da retirada de estímulos e aumento de juros deveria ter sido percebido como ruim para os mercados, certo? Errado! Na verdade, depois da realização recente dos preços, o S&P comemorou a confirmação por parte do FED de que a recuperação da economia continua consistente e que, portanto o resultado das empresas continuarão sendo robustos. Uma notícia potencialmente ruim foi vista como positiva; é o mercado querendo ser feliz! Bom no curto-prazo, mas acende uma luz amarela, o que nos faz monitorar esse risco ainda mais de perto.

Por fim, vamos entrar no final de semana sem que a incorporadora chinesa Evergrande tenha feito o pagamento dos juros vencidos de um título em dólar no valor de U$ 82,5 milhões. O que mais nos preocupa nesse caso não é só a possibilidade de não pagamento até porque descartamos um eventual efeito dominó com consequências mais sistêmicas. Nos preocupa sim, o risco de uma maior desaceleração da economia chinesa e principalmente seu impacto sobre os preços das commodities.  Grande parte da queda do minério de ferro, por exemplo, é explicada pela crescente regulação do governo chinês e seu impacto sobre o setor imobiliário.

Aproveitem o final de semana!

Eduardo Castro.

 

Eduardo Castro é Chief Investment Office na Portofino Multi Family Office. Em sua carta “Causa e Efeito”, uma publicação exclusiva, traz os principais fatos da semana e os reflexos nos mercados financeiros globais.

Carta #103: Balanço

Carta #103: Balanço

Semana novamente dominada pelo agravamento de temas locais recorrentes: descompasso fiscal, reformas erráticas, embates políticos, e uma crise energética que parece cada vez mais certeira.

No calendário, temos um feriado de 7 de setembro na terça que vem carregado de polarização e incerteza. E, o final da semana, mais precisamente sábado dia 11, marca o aniversário de 20 anos da tragédia de 9/11 nos EUA. 

Permito-me repetir o comentário que fiz na carta #79, em março deste ano, quando as médias diárias de óbitos devido à Covid rapidamente se aproximavam de 3000: “O mundo parou para olhar aqueles ataques às torres gêmeas, enquanto sites de notícias congelavam sob o peso da humanidade tentando entender o que acontecia. Aqueles eventos, que aterrorizaram o mundo e inauguraram uma nova era do medo, contabilizaram 2,977 mortes.

Prometo me esforçar ao máximo em buscar um olhar positivo e construtivo para os temas que selecionei.

Final de Mês
Comecemos pelo bode na sala. Sob qualquer medida, tivemos mais um final de mês de resultados pouco inspiradores para nossos investimentos. Classes de ativos de risco universalmente sofreram sob o peso de tantas notícias negativas. Na minha fatura, estamos já há 3 meses contabilizando finais de mês desapontadores. Desde aquela sexta-feira, 25 de junho, onde o powerpoint da proposta de reforma tributária começou a circular, mercados não tem tido trégua. Se o final de junho foi atrapalhado pelo balde de água fria que representou a versão inicial da proposta, o término de julho padeceu de ruídos em torno do parcelamento de precatórios, votação eletrônica, e bolsa família. Em agosto, apesar da semana passada (carta #102) ter terminado em tom positivo, a divulgação da proposta de orçamento do governo para 2022, admitidamente ainda muito crua, parece ter azedado o finalzinho do mês. “No creo en brujas … ”, mas parece haver um esforço cósmico concertado de divulgação de pautas bombas no final de mês – especialmente quando, por exemplo, bolsas americanas vivem um excelente momento. Minha recomendação? Fiquemos alertas à amplamente documentada fixação do ser humano pelas notícias ruins. Ainda que o viés da negatividade tenha nos trazido até aqui como espécie, talvez devamos ficar alertas à seus efeitos acumulados, quando somos bombardeados pelo fluxo incessante de notícias. Afinal, e sem nenhuma crítica implícita, como dizem nossos vizinhos do norte, “bad news sells”.



Reforma Tributária
Fomos surpreendidos na quarta à noite com a aprovação às pressas da reforma do IR na câmara. O famoso investidor fundamentalista Benjamin Graham (1894-1976) certa vez declarou que “In the short run, the market is a voting machine but in the long run it is a weighing machine.” Ou seja, o curto prazo estaria muito mais próximo de um concurso de popularidade, sendo que no longo prazo o real valor das ações “pesaria”, refletido no preço. Bem, ontem, quinta-feira, o “sr. mercado” votou… e votou pesado, ao tom de uma queda de 2,28% no índice Ibovespa – e com reflexos no mercado de juros. Pelo andar de hoje, as urnas continuam abertas. Claramente é um assunto para acompanharmos de perto, agora que a reforma segue para o senado. No entanto, a forma atabalhoada como o assunto foi conduzido não agradou ninguém. O brilho de uma medida estimulativa, a redução do IR das empresas, parece ofuscado pelos inúmeros efeitos de segunda ordem, e eventuais desarranjos econômicos, que assuntos como a tributação de dividendos pode trazer. Seguimos mapeando os impactos nas diversas classes de ativos que recomendamos, e nossas portas permanecem abertas para famílias que desejem explorar situações específicas.

Orwelliano
No começo da semana foi divulgada uma notícia que ganhou pouca atenção, porém que creio reforça a visão de uma China cada vez mais reguladora daquilo que o partido entende como “ópio espiritual” (carta #99). Aparentemente, a China estaria limitando o número de horas que crianças podem jogar online à 3… por semana! Não apenas isso, os horários permitidos para tais atividades também seriam restritos. Como pai de duas adolescentes plugadas, neste caso não em jogos mas em TikTok e Insta, secretamente comemorei a notícia. Mandei imediatamente para elas por nosso grupo familiar de whatsapp, ação que foi recebida com um gélido episódio de “ghosting” – em português: deram de ombros. Sinceramente não tenho a menor ideia de como o partido pretende implementar tal política. Independentemente disso, há um certo ar de “1984” (romance distópico de George Orwell) no ar, indo desde bitcoin e sistemas de pagamento, passando por educação e terminando em entretenimento. China continua sendo uma tese de investimento internacional importante, mas claramente exige que percebamos que as coisas por lá funcionam diferente do que provavelmente estamos acostumados.

Riscos, Episódio 1
Prometi iniciar uma minissérie sobre o tema risco. Já fui questionado sobre esta divisão artificial de temas mais complexos em várias cartas. Se de um lado odeio o fenômeno das cenas dos próximos capítulos, do outro, trabalho duro para fazer esta leitura semanal caber em poucos minutos do final de dia do meu leitor. Mas, vamos lá: tendo concluído a exploração sobre o que seriam retornos razoáveis esperados, e fazendo a ponderação sobre o nível de risco assumido por uma dada família, é natural que surja a dúvida: afinal, o que é risco? Como se mede? O que come, e onde habita? Comecemos por algo que o risco não é, ou pelo menos não é necessariamente. Proponho aqui que volatilidade (ou o grau de variação de preços) de um certo ativo não é necessariamente uma boa medida de risco. Peguemos emprestado um exemplo da engenharia: asas de avião não são rígidas. Olhando pela janela do avião, vê-se claramente que há intensa flexão destas enormes estruturas.  As asas de um moderno Boeing Dreamliner 787 conseguem fletir incríveis 7,6 metros antes de entrar em falha – muito acima de qualquer cenário normal de operação. Neste caso, uma estrutura rígida seria muito mais arriscada do que o projeto atual. Um certo grau de flexibilidade (volatilidade), dentro de limites, não é apenas esperado, mas faz parte integral do projeto. Pontes e edifícios altos são projetados considerando este mesmo princípio. História curiosa, para cariocas saudosistas como eu: o famoso e controverso edifício “balança mais não cai”, inaugurado em 1948, na época de Vargas, está de pé até hoje, devidamente revitalizado, e inspirou até programa humorístico na Globo dos anos ‘70 !



Sei que arrisco alienar alguns queridos leitores com a dica desta semana, mas, ainda que filmes de terror não sejam de apelo universal, minha recomendação tem uma história por trás, e vem com pedigree de ninguém menos que o famoso escritor Stephen King. Voltemos ao ano de 1980. Jack Nickolson e Shelley Duvall estrelavam em “The Shining” (“O Iluminado”) de Stanley Kubrick. As coisas demoravam para chegar no Brasil naquela época, então eu provavelmente vi o filme lá por ’83, numa fita VHS, já adolescente e relativamente interessado neste tipo de estética. “The Shining” talvez tenha sido o primeiro filme do gênero a alcançar grande projeção mainstream, provavelmente pela brilhante atuação do ensandecido Nicholson, e pela hábil direção de Kubrick (sim, o mesmo de “Laranja Mecânica”). Assistir à película era visto como um rito de passagem para os interessados no gênero, com lendas urbanas especulando que nunca mais seríamos os mesmos. Pois bem, a dica da semana fica com “Doctor Sleep” de 2019, que é justamente baseado no livro de King que é a sequência à história que inspirou o original. Ainda que não seja uma obra-prima tão chocante como a primeira, o enredo, com quase 40 anos, envelheceu bem e retoma a trama do ponto de vista do filho do casal original. Ewan McGregor, até onde me lembro, estreia no gênero. Mesmo que meu leitor não ame o estilo, Stephen King é um ícone da literatura americana, e as adaptações à telona costumam honrar a obra original. Eu só encontrei na HBO, aquela do catálogo excelente mas do app de streaming sofrível. Se precisar de companhia para assistir, como eu precisei lá no começo dos anos ’80, pode encomendar a pizza e me chamar!

Esta carta semanal tem o objetivo de fazer um apanhado breve e bem-humorado das notícias do mercado financeiro, com foco nos temas de gestão de riqueza e planejamento financeiro. O texto não constitui nenhuma oferta de produto financeiro, ou recomendação de investimento. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem o posicionamento oficial da Portofino Multi Family Office.
Pedro Saboia é sócio da Portofino Multi-Family Office, investidor profissional, CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA) e Consultor de Valores Mobiliários autorizado pela CVM, conforme instrução 592. A Portofino cuida das pessoas para que alcancem um futuro financeiro equilibrado – com ética, transparência e responsabilidade. Quer conhecer mais? Agende uma conversa.